SAUDADE NUMA TARDE DE VERÃO

Sonolenta fechava-se a pálpebra do dia. O sol, em caminhada vagarosa, mudava o azul na palidez do rosa. Era mais um dia que morria.

Sentada à beira da vida, apreciei a cena pensando nas maravilhas que a natureza nos oferece. Imaginei onde nasceria a estrela primeira, se a lua surgiria branca ou se ficaria escondida n'alguma nuvem maldosa, deixando assim de pratear o universo com seu brilho fulgurante. Acompanhei no céu, o vôo das aves que regressavam ao aconchego de seus ninhos. Próximo cantava uma cigarra, enchendo o ar de nostalgia. Foi esse canto que me trouxe saudade. Deixei de observar a ida do sol, para vaguear por entre reminiscências do passado, minha infância distante, minha mocidade, fatos que entremearam de diferentes matizes a escala da minha vida. Revi-me criança nos bancos escolares, nos jogos de amarelinha das calçadas e sobretudo lembrei-me das corridas pelas ruas a cata de tanajuras e da felicidade esperimentada por saltar, nem sempre com sucesso, as poças que a chuva deixava. Recordei-me da primeira alegria sentida, aquela dos meus 15 anos, idade que esperei ansiosa, contando os dias; da primeira infelicidade de amor; da primeira saudade...

Quantos pomares deleitaram minha meninice, quando as frutas eram muito mais saborosas por terem sido surripiadas dos donos dos quintais. Quantas vezes o avanço dos cachorros e mesmo as fugidas apressadas por ter sido apanhada em flagrante. Nessas ocasiões chegavam-se-me aos ouvidos, as ameaças de donos aborrecidos. Tempo inesquecível aquele! Ficou para traz, na poeira do tempo.

Mas eis que surge uma estrela. Veio arrancar-me do devaneio e da fantasia em que mergulhara. Tudo isso por culpa da saudade. Quem não se lembra das tardes de verão que marcaram sua existência?

Essa fuga ao passado, é apenas a ilusão de que tudo retornou. A saudade nada mais é senão a recordação de algo que nos escapou da retina mas que no entanto continua guardado no fundo do coração!

Simplesmente Romântica
Enviado por Simplesmente Romântica em 18/06/2013
Reeditado em 18/06/2013
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