GARIMPANDO LEMBRANÇAS
GARIMPANDO...LEMBRANÇAS.
Sou! Sou das Gerais, uai! Todo meu tesouro trago nas conchas de minhas mãos. De falar macio e mirrada sapiência, tropeço nos verbos..."compricado!... mermo assim, quero prendê falá ingrês... vendê meus briante lá nos Isteite...ali pertim! Outros garimpêro já fizero isso e enchêro as tuia di dóla! Pru que num tentá"?
Sou! Sou de lá...lá das alterosas, onde o sol nasce primeiro, aclarando meus regatos e areais ...vertentes de minhas inspirações.
De mãos ásperas e tosco saber, garimpei sonhos, tesouros ocultos ...diamantes brutos no ventre de aluviões, escarpas, grimpeiros e grupiaras.
O fogão era de pedra sobre pedras, ao chão tosco, miúdo. Cafua circundada de regatos banhando meus pés, aos grumos de saudades levados...quicaia de rudes petrechos, a goiva que remexe cascalhos, “labancas”e frincheiros...paçocas de barro. Sina, sinais...satélites, peneiras dançarinas, dança de menina...ao compasso do peão no olho da bateia, o brilho e os anseios...emoção. Decifrei nas manchas riquezas da terra, leitura de códigos e mistérios.
Cacumbus, carumbés....ganga, cativa, orogó e sericória...esperança, ação.
O lampejo nos seixos do bicame....faiscação na bica e no olhar vigilante do picuá-preso, o meia-praça; a gema cobiçada, tesouro reluzente, sorte grande...no olhar, instantes de sonhos, de glórias.
Sou! Sou filho do garimpo, parto natural sobre seixos; matuto, menino feio! Sem virtudes, de sorriso acanhado ao canto da boca, abraçado ao que me destinou a sorte.
Escalei por escarpas as cordilheiras...das grimpas a chance de contemplar ...brinquei com as horas e me envelheci, desconhecia a pressa que escraviza! Encilhei meu potro selvagem e o domei...meu lado inculto, embrutecido. Em fé transformei meu grito para não despertar a montanha, altar sagrado...
Minha vida, caminhos por sendas repisadas...andá-los, andei sozinho e hoje conto proezas da experiência que vivi.