DESCAMINHO
Vou pela noite, deixando rastros de mim. A cada esquina é uma nova arrancada. Tenho vontade de parar, de dizer: basta. Mas saio com o peso dos desenganos, como se plantasse urtigas na beira da estrada. Tenho ódio do mundo das coisas, do vento. Meu corpo é feito de arame retorcido, puro caminho para a ferrugem. Sou nada, nem de mim tenho dó. Outros não existem. Só eu vivo, só eu sofro, só eu percorro um caminho sem saída, sem meta, sem nada. A noite me esconde. O ceu cobriu-se. Apagou-se a lua quando minha maldade abriu a porta. O deserto de mim não tem fronteira, nem oásis para um refrigério. Tudo que toco morre, tudo que olho entristece. Nasci numa noite de tormenta. Esperneei para chegar aqui. Tracei meus rumos entre cobras e cascalho rude, sem água. Vou desfiando rosário de amargura. Onde passo nada mais prospera. Não me julgue. Não. Nem tenha pena do que digo. Falo só para mim. Não quero ouvidos julgadores. Eu me basto. Condeno-me sem defesa. Não me abro para dar passagem. Arrasto os pés na lama, chafurdando minha agonia. Sem porto, sem saída, sem barco, sem espera, fujo. E nem sei do quê, de quem. Meus olhos há muito que são só poeira. Nem lágrimas tenho para lavá-los. Meus lábios secaram, sem um beijo, sem uma palavra, sem um grito. Dor. Via rasgando minhas entranhas, meus sentidos, meu mundo. Sou parasita que caiu da árvore e jamais encontrou uma seiva. Vou-me misturar ao nada, deixar de ser. E não haverá quem repare, quem me procure entre as sombras, na lama, na escuridão. Fiz assim minha vida. Sofismei. Fui construindo barreiras. Não me misturo. Somente o estudo me serve. Mundo de ignorantes. Fiquem vocês com a rotina, o trabalho, a família. Não os quero. Não mesmo. Morro de orgulho. Não me olhem. Vou fugir dos olhares. Reprovação. Cuspo no que me dizem. Bando de ignorantes. Deixem-me. Meu fantasma não os assustará. Para onde vou serei poeira grudada nos paredões do mundo, sem individualidade, sem ser. Se perguntarem, digam: morreu.
Vou pela noite, deixando rastros de mim. A cada esquina é uma nova arrancada. Tenho vontade de parar, de dizer: basta. Mas saio com o peso dos desenganos, como se plantasse urtigas na beira da estrada. Tenho ódio do mundo das coisas, do vento. Meu corpo é feito de arame retorcido, puro caminho para a ferrugem. Sou nada, nem de mim tenho dó. Outros não existem. Só eu vivo, só eu sofro, só eu percorro um caminho sem saída, sem meta, sem nada. A noite me esconde. O ceu cobriu-se. Apagou-se a lua quando minha maldade abriu a porta. O deserto de mim não tem fronteira, nem oásis para um refrigério. Tudo que toco morre, tudo que olho entristece. Nasci numa noite de tormenta. Esperneei para chegar aqui. Tracei meus rumos entre cobras e cascalho rude, sem água. Vou desfiando rosário de amargura. Onde passo nada mais prospera. Não me julgue. Não. Nem tenha pena do que digo. Falo só para mim. Não quero ouvidos julgadores. Eu me basto. Condeno-me sem defesa. Não me abro para dar passagem. Arrasto os pés na lama, chafurdando minha agonia. Sem porto, sem saída, sem barco, sem espera, fujo. E nem sei do quê, de quem. Meus olhos há muito que são só poeira. Nem lágrimas tenho para lavá-los. Meus lábios secaram, sem um beijo, sem uma palavra, sem um grito. Dor. Via rasgando minhas entranhas, meus sentidos, meu mundo. Sou parasita que caiu da árvore e jamais encontrou uma seiva. Vou-me misturar ao nada, deixar de ser. E não haverá quem repare, quem me procure entre as sombras, na lama, na escuridão. Fiz assim minha vida. Sofismei. Fui construindo barreiras. Não me misturo. Somente o estudo me serve. Mundo de ignorantes. Fiquem vocês com a rotina, o trabalho, a família. Não os quero. Não mesmo. Morro de orgulho. Não me olhem. Vou fugir dos olhares. Reprovação. Cuspo no que me dizem. Bando de ignorantes. Deixem-me. Meu fantasma não os assustará. Para onde vou serei poeira grudada nos paredões do mundo, sem individualidade, sem ser. Se perguntarem, digam: morreu.