“POESIA ESQUECIDA”
(Reedição)
Minha velha poesia esquálida e tristonha,
coberta pelo mofo do abandono,
numa folha de caderno rabiscada,
amarelada, rasurada, amarrotada.
Por quanto tempo esteve esquecida
nesta gaveta no tempo perdida.
Ainda tem a pétala de rosa
no canto esquerdo do papel disforme,
que grudei um dia com goma de mascar
e as duas lágrimas desenhadas sobre um gordo coração.
Inutilmente tento desamassa-la
com o calor da minha mão.
O que me fez conservá-la,
Minha poesia tão feia?
Com esses remendos visíveis, como
remendos de meia.
Voltarei a rasurá-la, velha poesia esquecida,
não pense que vai ser lida e encher-se de animação.
Você é a poesia bêbada
que rabisquei de pileque, no cantinho de um balcão,
do aeroporto italiano, enquanto eu aguardava o horário do avião.
Não se engane de novo,
não beba mais esperança,
o sabor do absinto ainda está na lembrança.
Poesia torta que só conhece a incerteza
e dissemina a tristeza só pelo seu existir.
Entre os poetas não há lugar pra você.
Volte ao esconderijo com sua voz rouca, gaguejante,
sua face pálida, as mãos tremulas e suadas
só porque alguém a olhou,
mas nem sequer viu seu pranto
que disfarçando com um lenço
você tentou ocultar.
Vê? Há um poema mais bonito
que ecoa no infinito, abafando o seu grito,
sufocando seu penar.
Poesia embriagada, não saia do esconderijo,
pois é ali seu lugar.
Escuta o poema épico que a voz do poeta sóbrio
começou a declamar.
Não chore poesia feia,
o seu pranto não comove
hoje é dia de cantar.
Este texto foi originalmente publicado na Usina de Letras, em 2005. Resolvi reeditar hoje, no RL, após ler na sala da poetisa ATIZ, uma trova intitulada: "poesia feia".
Hull de La Fuente
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