Cubismo

Não mais inteira, mesmo sem nunca tê-lo sido

Sabe-se que são dois universos, completos e entrelaçados, colidindo, destruindo, devastando

Braços que se abraçam, mãos se entrelaçam, meus olhos nos dele e os dele nos meus

Somos retalhos de nós dois, pedaços de um que se encontram no outro, pedaços do outro perdidos em um

Somos planos, em tela, mas que isto não engane com uma falsa superficialidade, somos complexos, somos profundos

Somos a parte que compõe o todo, somos o todo enraizado

Somos, enfim, a arte. Sou sua perna direita, seus lábios de perfil. Você é meus cabelos, minha orelha esquerda de fronte. Estamos unidos justamente pela costela, aquela que te falta. Somos o ideal da criação cristã. Logo eu, tão mística, logo você, ateu.

Não sei onde eu termino, nem onde você começa. Não sei onde te engrandeço nem onde me encorajas

A cada desavença um rompimento, um corte brusco, e lá começamos novamente, eu sem meu braço, que substituo por seu tornozelo, você sem seu joelho, que substituis por meu cotovelo. É como nos remendamos, é o nosso cubismo perfeito cheio de arestas para aparar.