O Canto

Choveu durante quatro anos, onze meses e dois dias, mas parecia cem anos de solidão. Entre quatro paredes, sentia náusea ao perceber que o inferno são os outros. Na mesa, pequenas epifanias e alguns morangos mofados me faziam lembrar que dragões não conhecem o paraíso.

Vivo num mundo onde não há esperança, cego. E neste ensaio sobre a cegueira, vivo momentos de guerra e paz. Não há metamorfose, nós somos os mortos em pleno processo de decomposição. Nossa única vida genuína, repousa no futuro e ainda é 1984. Recorro a Santa Joana dos matadouros e pergunto onde está Deus?

Se Deus não existe, tudo é permitido, disse um dos irmãos Karamazov. Lembro disso e dou risada. Trago comigo as memórias do subsolo daquelas noites brancas, onde meu crime e castigo foi a felicidade. Meu Deus, um minuto inteiro de felicidade. Afinal, não basta isso para encher a vida inteira de um homem?

Encontro Hell, faço as malas e embarco para Paris. Vejo os homens que não amavam as mulheres, a menina que brincava com fogo e a rainha do castelo de ar proferindo: - Não conte a ninguém, confie em mim. Porém, nada fazia sentido, só queria entrar n'um bonde chamado desejo, levar a vida sem nenhuma responsabilidade e me divertir.

He, She e We torna-se descartável, pois a psique nesse momento é secundária. Sinto-me feliz por nada, não preciso de Divã e nos esconderijos do tempo vejo a cor do invisível.

Encontro o Fausto, quero conversar sobre os sofrimentos do jovem Werther, mas ele cada vez mais inacessível e sombrio se esconde dos raios de luz e em seguida desaparece. A vida não perdoa e a exemplo de Medéia, sacrifica os seus filhos... A única coisa que desejo no momento, parafraseando Hamlet, é: Dormir, dormir, talvez, sonhar.

Revejo, Sofia. Ela tem o seu próprio mundo. Chama-o de O mundo de Sofia. Inteligente, curiosa, falante ela divaga sobre a Grécia, Filósofos e suas aventuras. Saio extasiado, recobro a sanidade, vejo como me tornei estupido. Sigo sem rumo e me embrenho na natureza selvagem.

Fim de tarde na praia neste admirável mundo novo, observo o Tio Vania, espantar a gaivota para impressionar as três irmãs. Vou de encontro ao mar, brinco com a agua viva e me sinto pleno. Canto por que o instante existe, canto bem alto e meu canto é de ninguém.

http://www.youtube.com/watch?v=IwOMnIuAGOY

Stereophonics - Mr. Writer

Nota:

Segue abaixo os livros acima citados, bem como seus respectivos autores dos quais sou leitor e fã...

Cem anos de solidão- Gabriel García Márques

Entre quatro paredes- Jean Paul Sartre

A nausea - Jean Paul Sartre

Pequenas epifanias- Caio Fernando Abreu

Morangos mofados- Caio Fernando Abreu

Dragões não conhecem o paraiso- Caio Fernando Abreu

Ensaio sobre a cegueira- José Saramago

Guerra e paz- Liev Tolstoi

A Metamorfose- Franz Kafka

O Processo- Franz Kafka

A Santa Joana dos Matadouros- Bertolt Brecht

1984- George Orwell

Os Irmãos Karamázov- Fiódor Dostoiévski

Memórias do subsolo- Fiódor Dostoiévski

Noites brancas- Fiódor Dostoiévski

Crime e castigo- Fiódor Dostoiévski

Hell - Paris 75016- Lolita Piille

Os homens que não amavam as mulheres-Stieg Larsson

A menina que brincava com fogo- Stieg Larsson

A rainha do castelo de ar-Stieg Larsson

Não conte a ninguém- Harlan Coben

Confie em mim- Harlan Coben

Um bonde chamado desejo-Tennessee Williams

He- Robert A. Johnson

She- Robert A. Johnson

We- Robert A. Johnson

Feliz por nada- Martha Medeiros

Divã- Martha Medeiros

Esconderijos do tempo- Mario Quintana

A cor do invisivel- Mario Quintana

Fausto- Goethe

Os sofrimentos do jovem Werther- Goethe

Medéia- Eurípedes

Hamlet- William Shakespeare

O mundo de Sofia- Jostein Gaarder

Como me tornei estupido- Martin Page

Na natureza selvagem- Jon Krakauer

Admirável mundo novo-Aldous Huxley

Tio Vania- Anton Tchékhov

A gaivota- Anton Tchékhov

Tres irmãs- Anton Tchékhov

Agua viva-Clarice Lispector

Edson Peres
Enviado por Edson Peres em 03/06/2013
Reeditado em 26/06/2014
Código do texto: T4322552
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