Carpe Dien...
No dorso da tarde sombria um soneto pega carona, segue preguiçoso como as gotas de chuva na relva e o bocejar das nuvens em estiagem incerta como a esperança do sonho de primavera gerido no verão... Ah! As tardes de sábado tem costas largas e pés ligeiros.
Andam com se quisessem recuperar o irrecuperável... Por mais alto que os pássaros tenham cantado seu eco já se foi e o vento apagou o que foi escrito na areia. Ah! As pedras benditas, nelas podemos ler os verbos e exclamações dos fortes; são eles os ventos, nuvens e oceanos que movem areia águas e caminhos desenham...
Já as manhãs de sábado tem olhos grandes desprezam limites avançam sobre os membros das tardes possuem a ilusão de que tudo podem , até o sol lhes alimenta a fantasia que como tal faz com que se percam de si compondo sombras no meio dia...
A noite de sábado tem longas melenas trançadas pela Bacantes que as adornam com flores e fitas multicolorida enquanto esperam o cortejo de Dionísio. Noites de promessas e quimeras regadas à ditirambos. Mesmo os que ficam sós, melancólicos ou em paz percebem os som das tranças da noite de sábado, quando lançadas aos adeptos da orgia que apressam-se a agarrar-se a ela e deixarem-se balançar sobre a rotina, deixando para trás obrigações, tediosos afazeres...Ah! quão salutar é tornar-se bailarino, inventar amores, deixar a imaginação compor o corpo lépido que entrega-se às inocências...Uma grande esperança permeia estas noites em que tudo é possível porque ela está grávida do benfazejo domingo ...
Ah! Domingo já nasce generoso e compreensivo e logo passa a perdoar nossas imperfeições, dá desconto aos atrasos, as ausências...Ao desdobrar-se vai tornando-se um milagroso remédio, ao anoitecer dá doses extras da sua poção mágica que saram dores do corpo e d´alma àqueles que à ele se entregam confiantes . Domingo tem uma voz rouca , voz de sábio e filósofo que utiliza para baixinho confidenciar a cada um dos viventes que a vida se constrói vivendo o presente. Os que ouvem e crêem em seu ensinamento desvendam o enigmático sorriso da Segunda feira, a cor rosada da face da Terça feira, e assim por diante, dia após dia com sua nova oportunidade de reinventar-nos e abrimo-nos às epifanias que estão além das humanas tábuas, réguas, regras ditames, que por demasiadamente rígidos atribuímos aos deuses por nós criados... Bem nos avisou Nietzsche " Deus está morto" nós o matamos e portanto é preciso ainda crer em um deus que saiba dançar...
Carpe Dien