ELES SABEM, ELES SENTIRÃO
Eis – me aqui,
disse sobre o patíbulo, o condenado
Não me ignoram, não me ignoram,
suplicava aquele a quem a vida dedicou
Sabia, de ante-mão, que ao vencedor, as batatas!
Porém, tomado de uma força que desconhecia,
desde tempos juvenis, escolhera, posto que dele provinha,
lutar pelo povo e para o povo
Todavia, naquele dia, que ele sabia um dia chegaria,
suplicava, não pela sua vida, mas, tão somente,
para que ouvissem e vessem
a força algoz do regime tantas vezes combatido
E o povo levado à derradeira morte
Calou, por medo ou comodismo, nunca se saberá
Mas, defronte ao coitado ali supliciado,
nada fez e, sem saber de onde provinha tal vaticínio,
em assombrada e letárgica postura, ouviram
"Sabeis, meus irmãos,
A forca dói menos, posto que aperta e tudo acaba
Morrer, lentamente,
de fome, sede e frio, meus irmãos, não vale,
proceder à vida condenado percorrer tal caminho,
alimenta o tirano e condena-se vós e seus descendentes
Eis-me aqui!
Eis-me aqui!
Crápulas e assassinos,
debito sobre suas costas,
o fardo peso das mortes de crianças e velhos
Assassinos!
Assassinos!
Vermes embusteiros, vermes
Eu os clamo vermes
A corda, andem, a corda
Querem-me morto?
Ter-me-ão, meu corpo não resistirá
Já está pronto para o abate, como o gado para a mesa
Porém, sabeis:
Outros virão e vocês sentirão o peso da nossa força
Poderão correr, poderão implorar, poderão tudo,
mas, não conseguirão esconderem-se"
E todos, carrasco e povo,
tomados de incrédula admiração, porém,
calados e obedientes às autoridades, que a tudo,
forradas das mais belas joias e roupas,
o povo e o carrasco, igualmente povo,
prosseguiram às determinações dadas
Fez-se silêncio,
e todos, meditabundos e olhares ao chão,
seguiram, cada qual, a seus afazeres
A vida não se alterou por bom número de tempos,
mas, assim como se dissera,
lampejos de contestações ao regime perpétuo,
fez a realeza tremer sob o felpudo cobertor à sangue mantido
E sem saber de quem fora tal obra,
eis que, numa manhã ensolarada e tomada pelo povo,
ruas e praças foram ocupadas;
e no patíbulo,
a cabeça real balança sob olhares felizes