LOBO DO MAR, SOB FORTE TEMPESTADE: O HOMEM, SEU NAVIO E O MAR BRAVIO.

Na época, eu era um dos mais jovens tripulantes do navio “Lóide América”, um cargueiro da Cia. Lóide Brasileiro (PN). Navegávamos em direção a New York, em minha segunda viagem para aquele país. A mais ou menos 360 milhas náuticas daquele porto, fomos surpreendidos por um rabicho de um violento ciclone que, devastava aquela cidade, numa velocidade superior a 200 km p/hora.

Naquela época, muito jovem ainda, jamais havia visto algo parecido ou sentira toda aquela violência. O mar, enfurecido, parecia que enlouquecera. Sob aquele forte vento, que formava ondas, com mais de 20 metros de altura, como se fosse engolir a embarcação, durante mais de 38 horas, passamos o horror daquilo tudo, tentando nos manter em pé, pois o navio adernava, para um bordo e outro, a todo o momento, sucessivamente, sem parar. Foi quando, após um balanço de 45 graus para bombordo, felizmente, nosso corajoso, competente e destemido Comandante assumiu o lugar do timoneiro, e decidiu tentar desviar o navio de rumo, a fim de pegar mar e vento favoráveis pela popa o que, penso agora, talvez melhorassem a navegabilidade. O navio teria que virar a proa para a África, e isso exigia uma manobra de grande perícia, pois poderíamos ser surpreendidos por uma gigantesca onda, do lado de bombordo que, certamente, nos faria girar no próprio eixo, para boreste, e em seguida afundar... Foi um milagre, com certeza, que nos trouxe de volta e que me inspirou a escrever... Ouso contar-lhes minhas emoções. Antecipadamente, peço-lhes desculpas pela falta de modéstia, por ter aceito os elogios dos amigos, que leram essa minha estória contada em versos, afinal, sou apenas um ser humano sensível e nada mais.

Por isso, escrevi o poema, abaixo. Espero que entendam e gostem!

LOBO DO MAR: SOB FORTE TEMPESTADE;

O HOMEM, SEU NAVIO E O MAR BRAVIO.

(prosa poética escrita por Janil Lopes Corrêa - jlc - jan)

Singras presunçoso, águas revoltas,

Sem te importares com a tempestade,

Que nos açoita e nos preocupa,

Como se, dela, medo não tivesses.

De forma insana, potente, mergulhas corajoso,

Em ondas violentas, profundas,

Que se arremetem, alavancadas,

Contra o passadiço e afogam o tijupá.

Enquanto eu te observo emocionado,

Meu sangue corre gélido nas veias.

Assim, segues em frente, displicente

E neste afundar proa e rasgar ventos,

Continuas tua luta, contra a procela, indiferente,

A arrancar gemidos de tuas cavernas,

Que ecoam em meus ouvidos,

Como se fosses quebrar, partir ao meio.

Meu velho e bom navio tu sabes, muito bem,

Que não és mais jovem,

És sobrevivente de uma guerra mundial.

Mas, sem te importares com a idade,

Insistes em lutar com galhardia, companheiro.

Mas eu, conhecedor de tua compleição frágil,

Compulsoriamente te sigo, observando.

Preocupado com tua reação,

Sinto saudade, confesso,

Neste nosso momento crítico,

Da segurança do meu chão amigo.

Para que, com dignidade,

Desta nos livremos logo,

Tentarei, contudo, demonstrar,

Que também sou corajoso,

Fingirei que nada sei de nada entendo.

Como se nada de anormal,

Estivesse acontecendo,

Teimoso continuas a te arriscar, arfas, gemes,

Arrancas de tuas cavernas, gritos horripilantes,

Balanças, adernas, sofres, estremeces,

Parece mesmo que vais rachar ao meio.

Fazes meu sangue correr mais gélido nas veias

E meu coração disparar como se explodir pudesse.

Felizmente, para nós, nessa luta de titãs,

Continuas a desatar os nós

Desse nosso infeliz destino,

Meu valente e destemido lobo do mar,

Sem te importares, repito:

Que absurdo, com tua longa idade!

Açoitado pelo rabicho desse ciclone “Donna”,

Distante, 360 milhas náuticas, de New York,

Lutas para sobreviver e nos proteger.

À matroca, desesperado, mas intrépido,

Balanças de boreste a bombordo,

Como se estivesses sem rumo.

Solitariamente, perdido no furacão,

Ao sabor de ondas cada vez mais violentas,

Como se fosses afundar na maresia.

Enquanto penso que sofres, neste mar insano,

Sob a força deste vento arrasador,

Que aumenta cada vez mais a altura das ondas,

Ao invés, lépido flanas,

Voas como se fosses folhas de papel,

Soltas, balançando na ventania,

Varridas, por Deus, do teu convés.

Contigo, aprendi amigo,

Nestes anos todos,

Em que juntos convivemos,

Que quando finges ser jovem, como agora,

Na verdade estás em dificuldade

E é por isso que, egoísta,

Perdoa-me, eu temo por nós!

Sou humano, não sou de ferro,

Meu arcabouço, diferente do teu,

É revestido de carne e osso

E não de aço como o teu,

Não enverga, não dilata,

Apenas sangra, sofre, chora, geme,

Treme, covardemente, como agora,

Confesso: assustado temendo a morte!

Entretanto, tu não, criatura

Maravilhosa irresponsável,

Audaz, continuas desvairado,

Arremessando-te contra as ondas,

Fazendo-me sentir medo, ficar apavorado.

Vendo-te, assim, corajoso,

Sobre e sob esse mar desordenado,

Ao perceber a proximidade da morte, estremeço,

Sinto meu sangue correr gélido nas veias,

Assusto-me com toda essa tua valentia.

Admirável louco, obstinado,

Ao enfrentar a forte ventania

E nesse momento, nem imaginas,

Porque sendo um monte de ferro velho,

Não raciocinas e, por isso,

Não sentes tudo o quê sinto agora

E, o tanto que temo, por nosso destino.

Meu velho amigo, audaz marinheiro,

Não penses que só porque foste feito de aço,

Podes enfrentar impune a força da mãe natureza,

Que está tudo bem e que mandas no pedaço.

Não te iludas valente, assim poderás nos destruir!

Percebeste meu velho lobo do mar?

Mais uma vez, a onda passou batendo violenta,

Cobrindo o passadiço, alagando o tijupá,

O que me faz, sob intenso pavor, te indagar:

Afinal, quando isso tudo acabará?

Assustados, todos nós, velhos e novos lobos do mar,

Ajoelhamos, rezamos e envergonhados,

Da tua coragem e de toda essa tua valentia,

Nos escondemos em nossos camarotes,

Esperando o desfecho de toda a nossa desdita.

Egoístas, não queremos que saibas,

Do medo que padecemos,

O quanto tememos o pior.

Envergonhados, preferimos que penses

Que, como tu, somos todos corajosos.

Para que continues fingindo que és forte

E que zombes desse nosso destino cruel, prometo:

Vou fingir que creio em ti e quem sabe, assim,

Consigamos espantar a morte.

Contudo, por favor, tenhas mais cuidado companheiro,

Tua dilatação, na amurada, aumenta a cada instante.

Urge que lutemos para sair desta, uma vez mais.

Precisamos ter muita coragem,

Antes que seja tarde demais,

De reafirmar que, como o amigo,

Também somos parte deste mar insano,

Açoitado por esse maldito vento,

E que tu valente marujo é que é

O único e verdadeiro lobo do mar, neste convés!

Por isso, podemos e devemos,

No amigo, compulsoriamente, confiar...

Que Deus nos ajude, abençoe

E jamais nos abandone!

jlc
Enviado por jlc em 01/06/2013
Reeditado em 01/11/2013
Código do texto: T4319885
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