A trilha sonora da nossa vida
Todas as suas palavras propagam no ar. Lindas, mas malditas, Mary. No rádio o Guns Canta: Don't cry, tonight... Contudo, não consigo parar as lágrimas.
Cantávamos no ritmo cáustico da nossa aspiração, amor. Astros do rock caídos, chamas apagadas da fama. Sua voz alcançava os vivos, os mortos, os próprios anjos. Assim como alcançava a minha alma cansada.
I'm still loving you, (I'm still loving you baby).
Os nossos discos continuam tocando, do Scorpions ao Bon Jovi - agora são vazios como a sua partida. Não há motivos para ouvi-los, não com um só corpo acompanhando a batida. Não há motivos para sair da cama, orando todo dia para acordar com as suas mãos nas minhas. Não há motivos para sorrir, Mary. Sua música favorita toca, tão, tão dolorosa:
I'd still miss you, baby
And I don't wanna miss a thing.
O mundo não suportou a carga dos nossos sonhos. Frágil como nós dois, mas pronto para arruinar a força íntima. Ilusão sob ilusão, sua voz já não alcançava a multidão, ficou rouca, fraca... Morta. Mary, a trilha sonora da nossa vida toca por toda a casa, a cada minuto. A combinação fracassada do amor aliado às drogas.
Isso dói tanto quanto um vício. Mas não tanto quanto os sussurros ditos por sua boca. As suas últimas palavras paradas no infinito.