O Ermitão
Não existe mais espaço para suportar a insensatez humana.
Talvez nunca tenha havido... e essa é a razão
para uma vida desgarrada e livre nas montanhas isoladas,
sem desculpas convenientes, sem necessidades rotulantes.
Não ser preciso dizer ou fazer qualquer coisa que não seja verdade,
verdade tão simples e pura, tão transparente como o ar que atravessa o vale.
Longe de fingidas desculpas e elucubrações massificantes dos seres mundanos.
Não resta mais espaço para suportar a extrema urgência de fugir
e viver a grandiosa experiência de apenas existir.
...
Em algum lugar, acima do grosso manto de nuvens
a lua torna o céu menos escuro e mais suave as sombras à sua volta.
Nada tem de fatasmagóricas suas lembranças.
Nenhum vestígio dos primitivos anseios e desejos. Sente algo indefinível no escuro.
A mente livre de tensão absorve a atmosfera absolutamente pacífica,
preenchendo o vazio sensorial a que se impusera.
Vive dentro de si, distanciado dos apelos humanos.
Apenas o uivar dos coiotes e dos lobos famintos rompem o silêncio da noite, ressoando no vazio do peito como música ardente e redentora.
Chora silenciosamente nesse encontro com a natureza,
ao perceber a total ausência do horror visceral que então o compelia à solidão.
Desfez-se o laço que o prendia às emoções obsessivas.
Sua alma repousa livre no peito nu e o corpo pode então vagar em Paz.