A aflição de voltar



O que acontece em cada lar nesta cidade, em cada final do dia, é mais uma expectativa, o retorno dos filhos, enfim, o retorno do são e salvo...
É mais um desafio que uma espera... saímos para o trabalho e não temos em nenhum dia a certeza de voltarmos para casa, não com vida!
Ontem parei  no sinal, voltando para casa em plena luz do dia, os carros da frente todos sendo assaltados. Foi um vexame tão grande que por fim arrumei a bolsa pra entregar assim que ele batesse no vidro e me mandasse abrir a porta, com aquela delicadeza com que  eles dedicam a cada cidadão de bem. Orei  em dois segundos pedindo a Deus pra que ele desistisse e o sinal abrisse, olhei para o lado esquerdo... uma outra via impossível... contra mão.

Do outro lado da avenida,  vários policiais sem ver a cena...
Você fica tão sem ação, que também é tudo tão rápido que sequer dá pra pegar o celular, é uma verdadeira loucura. A sua vida por um fio.
O sinal abriu, eles correram em direção contrária, ah graças a Deus! tanta adrenalina, e revolta, é um caos total... mais à  frente, um coletivo largado, batido em uma van, vidros quebrados, eles entraram e assaltaram os passageiros, multidões de curiosos, nessa hora aparecem todos.

E você passa ainda palpitando de tanto sufoco, de tantas e tantas emoções e cruéis resignações. 
É preciso ter um coração muito forte para aguentar.
Ou entregar-se,  seguir destemida e seja o que Deus quiser.
Consolar-se com o fato de que não é apenas nesta cidade, que teria tudo para ser maravilhosa mesmo em suas dificuldades normais.
A sorte, na verdade é a fé em Deus que  nos acalma.  
A violência está em cada esquina, a cada passo,  nos assustando.
Independe de zona de risco ou de bairros nobres, periferias... não há distinções nesse  fato particular. É unânime. É triste, é real.

Assalto ao sinal, assalto em cima dos viadutos, assaltos dentro das agências bancárias, assalto... assalto... nas drogarias, na frente das universidades. Assalto aos salões de belezas, às clínicas,  aos supermercados. 
Sair ilesos destes locais públicos é uma verdadeira vitória!
Vive-se com os nervos à flor da pele, você retorna de um dia, com sabor de milhões de  ufas! cheguei.
Não há solução e nem para quem se queixar.
Vamos fazer o que? somos reféns da marginalidade e "falar" é trocado pela palavra predominante:  "calar-se"  acrescido de  "omitir-se" ...
Há tantas leis, tantos novos projetos cansativos, que nos dá ânsia de repulsa só o fato de pensar em tentar  buscar a saída, requer expor-se cada vez mais... 
É para apavorar-se? ou  é exagero? - Isso é  apenas o retrato falado da nossa bela cidade, enquanto isso,  cada dia se  faz mais lançamentos e programas sociais.
Pobre de nós,  simples mortais,  por que  apenas super heróis conseguiriam trazer uma solução.
Você,  segue pensando em como essa cidade já foi tão calma, isso  há muito tempo atrás.  E até sorrir com  um pouco de sarcasmo e ironia.


 

Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 27/05/2013
Reeditado em 14/02/2022
Código do texto: T4312498
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