PARA MAIS TARDE
Aquele poema meu, definitivo e absoluto, ficou para mais tarde. E tarde tudo foi ficando para depois do depois, para bem depois, a vida, a sina, o amor, a dor de já não ser, a angústia de não mais saber, a agonia de não mais poder, a solidão de já não ter, a tristeza de já não viver.
E é tarde para o lamento, para o sofrimento. É tarde para a ideia de um sentimento que não mais nos invade. Porque o que agora nos invade é este silêncio pleno e aterrador.
Todos os meus sonhos ficaram para mais tarde, mesmo com esta chama aqui no peito que ainda arde, mesmo com essa calma que não é covarde, mesmo com essa quietude e destreza em não fazer tanto alarde, a vida e a morte ficam para mais tarde.
E assim, quando mais tarde porventura perguntarem por mim, que fique tudo amanhecido de uma manhã esquecida, perdida no tempo que já não é, perdida no esquecimento do que nunca foi.
Que fique tudo como que tornado essência, que ninguém nota na aparência que as coisas tem de parecer com o que não são. Que fique tudo essência e intuição, essa impressão de que sabemos o que é e como é o que é e o que não é. Que fique então tudo implícito, que dentro e bem fundo bem sabemos que ninguém busca nada.
Que tudo seja nada mais que uma história antiga de uma mitologia improvável, que já não sabemos mais porque contamos, se contamos quando contamos se lembrarmos depois de tudo ter ficado para mais tarde.
Temo que o agora já seja tarde, tão tarde. Quem me matou ali não vai me colher acolá, na terra estéril de nossos piores pensamentos.
Porque é tarde. Aquele poema meu virá sem alarde...
Aquele poema meu, definitivo e absoluto, ficou para mais tarde. E tarde tudo foi ficando para depois do depois, para bem depois, a vida, a sina, o amor, a dor de já não ser, a angústia de não mais saber, a agonia de não mais poder, a solidão de já não ter, a tristeza de já não viver.
E é tarde para o lamento, para o sofrimento. É tarde para a ideia de um sentimento que não mais nos invade. Porque o que agora nos invade é este silêncio pleno e aterrador.
Todos os meus sonhos ficaram para mais tarde, mesmo com esta chama aqui no peito que ainda arde, mesmo com essa calma que não é covarde, mesmo com essa quietude e destreza em não fazer tanto alarde, a vida e a morte ficam para mais tarde.
E assim, quando mais tarde porventura perguntarem por mim, que fique tudo amanhecido de uma manhã esquecida, perdida no tempo que já não é, perdida no esquecimento do que nunca foi.
Que fique tudo como que tornado essência, que ninguém nota na aparência que as coisas tem de parecer com o que não são. Que fique tudo essência e intuição, essa impressão de que sabemos o que é e como é o que é e o que não é. Que fique então tudo implícito, que dentro e bem fundo bem sabemos que ninguém busca nada.
Que tudo seja nada mais que uma história antiga de uma mitologia improvável, que já não sabemos mais porque contamos, se contamos quando contamos se lembrarmos depois de tudo ter ficado para mais tarde.
Temo que o agora já seja tarde, tão tarde. Quem me matou ali não vai me colher acolá, na terra estéril de nossos piores pensamentos.
Porque é tarde. Aquele poema meu virá sem alarde...