Os poetas.
Os poetas que além-mar são frágeis, os poetas que além-mar são cândidos como a neve, os poetas que além-mar são arcanjos e anjos de um senhor desconhecido, os poetas além do infinito pensam demasiadamente em como escrever poesia e a orgia das palavras os levam a outro mundo, e outro estado e a outro estagio de espírito, de carne e de margem. A margem de um rio se torna grande fonte de inspiração e o vasto oceano azul se torna minúsculo diante das palavras do poeta, do pensador, do ator; os poetas que sofrem, os que absorvem, os que aprendem e os que se rendem a tristeza ou alegria, a overdose ou agonia, que devem muito e pagam pouco, que abrem a pele em um cruel açoite os tristes que colecionam lágrimas e os alegres que colecionam aprendizado Existirá de fato algum dia, um poeta que seja alegre? Além do horizonte existe uma casa, a casa dos poetas, mortos ou vivos ainda são poetas e todos se dirigem até lá para se encontrarem em um vale de poesias e a orgia satisfatória de tudo a sua volta, as ideias, a grama verde e o brilho do céu; os poetas além-mar são frágeis como cristais, mas rígidos como diamante. A fumaça que o poeta inalou os cabelos que deixou molhar pela chuva do inverno e o vento que deixou passar por seu nu corpo nu, voltou do horizonte, do além-mar e da orgia das palavras, saiu do vai e vem de poesia e se misturou no vai e vem da cidade, disseminando a poesia, nostalgia e alegria – tão sonhada alegria por tudo e por todos – os poetas além-mar que tanto nos fazem chorar, por serem tão impares, tão únicos e tão profundos; os poetas que em um tocar de mãos e de corpo e de rosto se desfazem em quinhentos pedaços, os que se tocam, os que amolam a ponta do grafite para escrever sem limites, no vale das palavras, no planeta das castas, no palavreado complicado e no simples pensamento de um poeta sedento, por amor, por amar, por andar sem par, sem destino, sem caminho assistindo a vida passar, contemplando a beleza do mar. Poetas que não negam a essência da vida, uma ajuda a alma ferida. O funeral de um poeta é um funeral de corações, o poeta que estava vivo a um minuto atrás, agora está morto para sempre e nunca mais voltará a vida. Além-mar, depois do horizonte um poeta chora e se esconde em cima do monte, compadeceram-se entre lágrimas, as palavras surgiram mais naquele dia, a memoria se abriu e os olhos se fecharam, os poetas o enterram. Poetas de preto, poetas de azul, poetas que hoje não comem mais alcaçus; mergulham no mar e vão até o fundo buscar o que em um naufrágio foi perdido e engolidos pelo mar; tornam-se então um par a procurar a joia rara no fundo do mar que fará os poetas voltarem a ser impar, os poetas voltaram a escrever, as pessoas ainda temem morrer; além-mar há uma bela canção para se cantar, uma linda canção para se ensinar. Além-mar o mundo é mais belo, além-mar o mundo é singelo.
[Rogger Insípido]