Nossos olhos se encontraram.
Sentamos à mesa e bebemos cada qual do seu conflito.
Falamos um do outro noite adentro, como velhos
conhecidos.
Foi ali que resgatamos um breve sorriso quase
esquecido.
Mesmo assim, concluímos que éramos dois
sobreviventes do amor não correspondido,
ambos com medo do perigo,
do suicídio dos nossos sonhos.
Dividimos nossas dores, falamos de nossos
dissabores e de como tínhamos no amor desiludido.
A madrugada chegou devagar, espiou e esperou
na beira da janela.
Trocamos aperto de mão demorado, apercebidos do
tempo desperdiçado.
Partimos, com uma melancólica química infinda.
Se não tivéssemos fugido,
quem sabe,
não seríamos bem mais,
muito mais
do que dois grandes amigos?