METAMORFOSES
Imagina a crisálida saindo do casulo por sentir-se aprisionada, e, ao fugar alada, o sapo esticará a língua (à falta de outro uso) e, num upa, a comerá, num estalo. Acho que nada dirá como príncipe da palavra, só se deliciará com o gosto do petisco... Sim, também me atiças à novidade, borboleta, e até a palavra claudica... Escrevo BOROBOLETA?! Enfrento o ato falho psicológico, aqui e agora, a pressa claudicante do teso espiritual se materializando. Sim, mas será que as musas seriam assexuadas, sem libido? E eu, que nem sei se as tenho em mim? A musa é a própria Poesia. Se as possuo? Este é um verbo que não posso conjugar. A posse? Não sei a posso ter... Sim, é mesmo, só sei falar... O que teria por dizer? Há metamorfoses no corpo. A musa é uma crisálida...
– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.
http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/4306633