Poesia semi-desagradável
Desculpem,
mas a poesia é esta.
Meio drama policial
de franzir a testa.
O mote me pegou
pelo colarinho.
Não tive como fugir
ou repelir a briga.
Não é a intriga
que dá graça à trama?
Estou no engasgo
há uma semana.
O mote me ofendeu
a progenitora.
Me animalizou
e chamou de vaca!
Vou apelar
e perco o recurso,
a coordenação motora.
Tremo de raiva,
foi isso mesmo,
assim como digo doutora.
Fiz o boletim
e agora o mote,
tem que ficar
a trezentos metros
longe de mim,
mas ele não fica.
Dá voltas e mais voltas
pelos quarteirões
e me cerca como pode.
Já pedi proteções à Deus,
no medo que me sacode.
Valha-me Maria da Penha
não há paz que me venha
diante disso.
Por causa dele
perdi o emprego,
a liberdade
e o enredo.
Vendi a pouca
mobília que tinha,
dei o cão de estimação
para a vizinha
e fui me embora
fugida da vida de antes.
Ouvia o Guilherme Arantes
me elogiar no fone de ouvido,
dizia que eu era
cheia de charme,
de certo modo, era.
Cheia de charme,
carne e desespero.
E depois deste desterro,
mostrai-me o caminho,
ó pai.
Fui para uma cidade qualquer,
dormi num lugar qualquer
e abracei um qualquer destino.
Na verdade, me amasiei com ele.
Qualquer que fosse o fim
ele estaria ali,
de qualquer modo.
Vendia uns bordados,
uns panos de prato
pintados à mão,
ganhava lá uns trocados,
remediava a situação.
E nesse vão de anos
o que me distraiu
foram os panos de prato.
Um dia, de fato,
a maçaneta da porta
tentou girar
de vontade própria.
Chutes, murros e berros.
A visita indesejada,
a grosseria do mote voltou.
Mas o mote me achou ali?
Me seguiu as pegadas?
Foi.
Me amarrou, amordaçou,
contou piadas tão afiadas
que me matou de rir,
matou de facadas.
Agora é tarde.
Agora é noite.
Boa noite,
para quem realmente
deseja que ela seja boa.
Minha gente...
História bacanuda é assim,
carnuda na polpa
e magrela no fim.
E mote ruim foi ao bar,
beber uma pinga
para perfumar o hálito.
Deveria ainda naquela noite
encontrar outra
a quem pudesse esposar.
A vida é assim.
Assim!