Guarda todas minhas cartas,
que pensastes em responder.
Tal qual os fuzileiros faziam:
uma a uma, envoltas em fitas.
Borrões à pena rabiscados,
soterrados em jarros de barro.
Um dia, quando fores liberto,
vou querer ter delas o retorno.
Guarda-as todas enumeradas,
com as datas delineadas.
Como novelas de folhetim,
lacradas com cera perfumada.
Quando chegarmos ao futuro,
não haverá muito a trabalhar,
tampouco tempo para sonhar.
Restará apenas, ler e divagar.
Deixa as missivas na mesa,
naquele canto onde te deitas,
para que eu logo reconheça,
tua letra trêmula no remetente.
Fala-me que não fui só casual,
que fugistes por medo de amar,
quem te venerou loucamente,
a que desistiu de idílios sozinha.
Conta-me tudo, da saudade
que doía em você noite e dia.
Do tormento de não ser meu,
de não ter a mim pertencido.
Reclama das chuvas que perdemos,
dos dias de sol que não vivemos.
Dos prados que não desbravamos
e dos fetiches que não saciamos.
Guarda todas as cartas minhas
e não as deslize na gaveta;
alegando ser tarde demais!
Guarda... Eu ainda vou buscar...