O prato acompanha fritas
No restaurante,
fomento a fome.
Metaforizo o nome
do prato, do cardápio.
Entro no duelo,
escolho as armas.
Garfo e faca
para ferir as carnes.
Forjo fortaleza,
beleza e castelo.
Um motivo
que me cause
ao paladar,
todo o conforto
de estar.
Guardo luto
pelo morto que me serve
de alimento.
Apenas luto
pela vida que segue.
A balbúrdia, o arrulho
entopem o salão.
Todo esse barulhão,
faz barulho sem dizer
nem prover significado.
O óbvio se faz opcional,
mesmo com azeite e sal
não pega lógica.
E assim, luto
pelo melhor sabor.
Vou e luto
por amor e gosto.
É no ranger dos dentes
e no cerrar dos punhos
que declaro a comilança.
Em tempo, em dia,
essa tal temperança virá.
Um dia, quem sabe...
Enquanto a pança
arredonda a esquisitice,
simplesmente luto,
refuto essa chulice.
Aumento o meu luto
pelo nobre vegetal,
afinal, salada
também é gente,
também morre.
Corre, uma ambulância!
Lamento tanto...
Lamento pela intoxicação.
Faço uma oração, juro.
Virose é normal.
Mas a guerra está aí,
epidêmica, sem vacina.
O vírus alucina,
perde o foro, a rota,
vaticina a derrota,
traça a queda,
espalha o pó.
O sabor é um só,
do tipo bem amargo,
servido ao molho de encargo
e filé de multas infinitas.
Sim!
O prato acompanha fritas.
É tudo o que temos,
não sabemos de mais,
não saberemos de tudo.
Sofisticação? Aqui não tem!
Faisão nem pensar!
Essa ave galiforme
não dorme na panela,
ela voa longe
dado o preço.
Com todo apreço,
reserve o seu vintém,
não mereço a gorjeta.
Em caso de desagrado
vá ouvir um fado em casa.
Tenha a mínima fineza
de se levantar da mesa
e procurar outro lugar.
Ora pois, passar bem,
muito bem, caro gajo.