Aplausos, mais aplausos!

Quando estiver pronta,

me acorde.

Para subir ao palco

ao som do acorde

mais torto.

Esse meu show

é para um horto

de pessoas,

poucas mas boas

entendedoras,

que gastam quando podem

seus aplausos guardados.

Conto aqui

um causo novo,

o da galinha e do ovo.

Quem será que veio

primeiro meu povo?

Deuzépai!

Deu-zé-pai.

Deus é pai.

Amém.

Ninguém acertou.

Pelo menos um riu,

viu graça na piada

que a traça roeu.

Doeu em mim

o pouco efeito

e desse jeito

não tiro nem

para o pão.

Melhor recolher

o palhaço

e fazer panelaço

no centro,

um tanto portenho

eu sei.

Atrapalhar o trânsito

no fim de tarde

pode mesmo dar certo.

Se é por paz e alegria,

dignidade e moradia

por que não?

A ilusão é uma parte

de mim que não sara,

que não para de escorrer

pelo nariz.

Melhor de tudo

é ser feliz,

pelo menos ouvi dizer.

Mas a felicidade

é uma coruja fujona

que escapa enquanto

o dono dorme.

Enorme é o trabalho

de recapturá-la,

mimá-la e fazer

com que fique.

Dou-lhe pinga de alambique

para embebedar,

ver se para quieta.

Esmaecida, ponho

essa princesa para dormir.

Ela passeia nos sonhos

em vales medonhos, incólume.

Mas estou aqui,

a vigiar seus espasmos,

enfrentando os marasmos

da noite só para

vê-la dormir.

Amanheceu e ela

não acorda.

Amanheceu e eu

adormeci.

Deixei um bilhete

ali na cômoda:

quando estiver pronta,

me acorde.

Para subir ao palco

e no fim do show...

Quero aplausos,

mais aplausos.

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 14/05/2013
Código do texto: T4290521
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