Aplausos, mais aplausos!
Quando estiver pronta,
me acorde.
Para subir ao palco
ao som do acorde
mais torto.
Esse meu show
é para um horto
de pessoas,
poucas mas boas
entendedoras,
que gastam quando podem
seus aplausos guardados.
Conto aqui
um causo novo,
o da galinha e do ovo.
Quem será que veio
primeiro meu povo?
Deuzépai!
Deu-zé-pai.
Deus é pai.
Amém.
Ninguém acertou.
Pelo menos um riu,
viu graça na piada
que a traça roeu.
Doeu em mim
o pouco efeito
e desse jeito
não tiro nem
para o pão.
Melhor recolher
o palhaço
e fazer panelaço
no centro,
um tanto portenho
eu sei.
Atrapalhar o trânsito
no fim de tarde
pode mesmo dar certo.
Se é por paz e alegria,
dignidade e moradia
por que não?
A ilusão é uma parte
de mim que não sara,
que não para de escorrer
pelo nariz.
Melhor de tudo
é ser feliz,
pelo menos ouvi dizer.
Mas a felicidade
é uma coruja fujona
que escapa enquanto
o dono dorme.
Enorme é o trabalho
de recapturá-la,
mimá-la e fazer
com que fique.
Dou-lhe pinga de alambique
para embebedar,
ver se para quieta.
Esmaecida, ponho
essa princesa para dormir.
Ela passeia nos sonhos
em vales medonhos, incólume.
Mas estou aqui,
a vigiar seus espasmos,
enfrentando os marasmos
da noite só para
vê-la dormir.
Amanheceu e ela
não acorda.
Amanheceu e eu
adormeci.
Deixei um bilhete
ali na cômoda:
quando estiver pronta,
me acorde.
Para subir ao palco
e no fim do show...
Quero aplausos,
mais aplausos.