Carta a uma mãe distante, porém presente!

 

Oi, mãe...

Mãe, hoje faz quatro longas décadas que o destino e o mundo te roubaram de mim e me roubaram de ti. Guardo ainda em meu coração a tua lembrança, e na retina a tua imagem, ainda que desaparecendo na curva da estrada. Resolvi te mandar esta cartinha em agradecimento pelo tempo que passamos juntas,especialmente pelo tempo precioso em que teu ventre foi o meu aconchego,ainda que tão pouco,mas sobremaneira inesquecível, pois foi um tempo em que vivemos mais juntas do que jamais ficaríamos,pois eu vivia dentro de você!Sei que foram curtos nove meses, esse tempo em que com tanta intensidade vivemos, mas posso dizer que foram os melhores dias da minha vida, pois eu tinha a tua proteção... E tu ,de certa forma, a minha. Quando nasci, a luz que me iluminou foi a dos teus olhos, pois o mundo em que me colocaram se tornaria completa escuridão sem a tua companhia... Então,eu agora órfã do teu ventre ,me agarrei ao teu seio e fiz do teu colo meu mundo, até que a vida me fez andar ,mas meus passos eram curtos para alcançar os seus que se afastavam , até que o destino me fez perder-te de vista e pude então entender o verdadeiro sentido da palavra saudade, e bem perto de mim a tradução mais dura do que é 'distância’... Mal meus lábios balbuciaram teu doce nome e um nó já me estrangulava a garganta por saber que não os ouviria e já o eco dele se perdia no infinito... Fui crescendo longe do teu olhar de mãe, mas sei que ao longe me regavas a cada dia com tuas lágrimas de saudade,que me deram forças para viver. Quisera antes, que essa nossa despedida tivesse sido provocada por Deus,pois assim teria sabido do teu destino,o céu, teu por direito...Mas não foi assim e despedimo-nos aos sete da minha vida aos tantos da tua,sendo que tu, para destino ignorado,como ignorados foram todas as minhas súplicas e apelos para que ficasses e debalde implorei,desconhecendo os teu motivos e razões que infelizmente falaram mais alto que a tua emoção.Hoje envelhecida e cansada dessa estrada que percorri sozinha sem a tua mão para me amparar, sem teus beijos em meus machucados, sem tuas canções de ninar,sem ter a quem mostrar meus joelhos ralados, lambi eu mesma as minhas feridas e embrutecida pelo sofrimento chamado 'solidão de mãe', tive eu mesma que inventar 'canções de enganar"...De enganar tristeza, de enganar saudade, de enganar sofrer...Quantas vezes me afaguei e ouvi eu mesma os meus lamentos e as minhas confidências que o destino me mandava de volta me obrigando a abrir por nunca haverem chegado aos teus ouvidos.Hoje sei que existes em algum lugar do mundo,e que esta carta, ainda que manchada de lágrimas chegará a ti,talvez levada pelos que entendem e conhecem a minha dor.Sei que existes aí onde estás, porém não se vives...O que sei viva e presente, é a tua lembrança querida ,guardada em um lugar reservado àqueles que me são mais caros,sem contudo possuírem o mesmo preço e o mesmo valor que são teus:No meu coração!

De sua filha

L.G.L.