Quadrilha

Uma calçada,

duas garotas,

um homem velho,

uma troca de palavras fortes

uma caçada

delas, passos fortes

de uma delas, um forte grito:

“pare aí seu desgraçado, você roubou meu celular no ônibus”

delas, passos mais fortes,

dele, passos mais fortes ainda

agora os passos deles todos

o ponto todo escorre no homem

uma pessoa

um chute certeiro

uma prova do crime aparece

aparecem mais duas pessoas, três chutes,

cinco pessoas, oito chutes, nove socos

dez pessoas, vinte e cinco chutes, dezenove socos

e J. Pinto Fernandes, que ainda não

havia entrado na história, desceu da

moto e deu 13 golpes com o capacete

na cabeça do homem,

“the man who wasn´t there”

Trinta e oito pessoas,

já contando as duas garotas,

atiram um olhar aflito àquele ato

Trinta e oito pessoas

Ratificam que mais

trinta e oito socos, trinta e oitos chutes,

trinta e oito golpes de capacete,

não seriam demais.

E assim prosseguiu,

só não os golpes de capacete,

pois J. Pinto Fernandes,

que havia entrado

na história, só por ter visto

nela a chance de esvaziar

a cabeça enquanto

enchia a daquele homem,

foi-se embora para Pasárgada,

esta não muito distante,

ficava perto do Terminal João Dias.

As duas garotas amavam

João, Teresa, Raimundo,

mas pareciam amar muito

mais o que não lhes deixava as mãos vazias.

Tantos punhos cerrados

Quando só bastava um dedo.

Eventualmente, chegou a polícia.

Chegou tarde,

já ninguém dançava.

[Poema integrante do livro "Sow", a ser lançado em breve]