COISAS DO VENTO E DA SOLIDÃO

Haverá horas que você precisará de alguma reclusão para sobreviver. Vai ser só você e tua clausura. E talvez algum sussurro da brisa que penetre pelas janelas de teu ser. No mais, será apenas o silêncio da tua alma. Todo pensamento será indigente nessa hora. Vagará sem rumo e medroso, como se em toda fresta do reboco da parede de teu templo inconcluso houvesse o pior dos monstros, faminto e à espreita para te devorar. Mas o medo dessa fósmea insana será uma questão de tempo, pois certamente chegará aquele sopro mais forte que fará remexer a poeira de teus dias, derrubar teus utensílios inúteis, bater as folhas de todas as portas e janelas entreabertas em tua vida. Você então despertará da letargia, se espreguiçará e talvez até se assustará um pouco, sem saber exatamente onde está. Mas logo tomará de novo o prumo, o esquadro, o compasso, a régua, a alavanca, o maço e o cinzel, instrumentos de tua existência, e voltará ao trabalho eterno. E tudo voltará a ser justo e perfeito novamente. Que assim seja!