DE HOMENS, COISAS E BICHOS

Tudo nasce, vive e morre. Toda imagem sofre o desgaste natural da passagem do tempo. A casa de estância ou o galpão um dia vira tapera. E nem por isso a instalação física perde em essência, somente lhe falece utilidade. O tempo nunca é casto, virgem. É o curial destino das coisas, bichos e homens neste estar no mundo.

Consta que até as pedras são seres vivos, mutantes. Só que nelas o tempo é oceânico, e para nós, em alguns bichos e vegetais – comparativamente – o tempo é um arroio que corre plácido, num dia sem a violência e o regateio das ondas sobre pedras e musgo.

Em algum outro, dependendo dos humores dos ventos, vagas se desabam sobre casas, homens, coisas, árvores, tragando fumo nas ventas. A sombra de uma velha e ancestral figueira é sempre a mesma, mas é no verão que cumpre a sua vital proteção. E são as torrenciais chuvas e ventos que solapam raízes e folhas.

No mais, tudo é húmus. Curiosamente, o amor também não é plácido, porque energia do tempo de partidas e chegadas. Neste, a palavra funga, bole e benze o dia seguinte.

MONCKS, Joaquim. A MAÇÃ NA CRUZ. Obra inédita, 2022.

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