Ensaio Sobre a Dádiva

Ela perdera um precioso objeto. Aflita queria resgatá-lo, recuperá-lo. Era tarde. E tudo era silêncio. Ela havia lido sobre a quântica e a probabilidade comandando a noção de realidade dos fatos. Ou talvez seria uma questão de sincronicidade? Pensamento firme procurava um padrão que seria o sinal, e assim talvez reencontrasse o objeto tão valorizado.

Num certo momento pareceu ouvir de si mesma 'você vai encontrar quando você mais precisar'. Afinal confortada dormira e sonhara com a descoberta de que teria guardado o objeto em uma pequena maleta. Mas onde seria o local, ainda não sabia. Começou a estudar onde poderia ter guardado a maleta. Ficara mais fácil encontrá-la...

Também descobrira em suas divagações sobre a importância do objeto perdido, que em si mesmo o objeto não tinha valor, a virtude do objeto lhe dava o precioso valor. E a virtude era do objeto, mas não estava contida nele, era exterior ao objeto como quando a lua brilha e não vemos a candeia. Como no mundo corrompido brilha a boa ação.

Assim era aquela preciosidade situada no contexto de algo maior: A pessoa amada a qual se destinara aquele objeto. A pessoa para quem o havia guardado por tempos, como quem guarda um sapatinho novo esperando o pé crescer, na esperança de um dia poder servir, proteger, aconchegar.

Assim era a virtude do objeto perdido, tão estimado quanto a relíquia, que na verdade era a sua verdadeira e última paixão, sua razão de existir. Precisaria encontrá-lo para enfim poder oferecê-lo e demonstrar os seus cuidados, através do seu modo único de amar. Não importava, contudo, que a pessoa amada fosse amada por tantas outras pessoas com outras formas de amar diferentes da sua. Sendo alvo de novas oferendas preciosas e únicas, desde que isso a fizesse feliz.

Colecionar bons afetos é muito bom, é saudável, é a alegria da alma aflita, oprimida pelos vazios do corpo desejante. Todos devem ser amados de muitas maneiras, para que o coração de um homem ou uma mulher seja, na verdade, o seu maior tesouro.

In:'Ensaio Sobre a Dádiva' prosa de Ibernise.
Ibernise
Barcelos, (Portugal) 01MAI2013


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2013 Mais uma Odisséia...
Que venham as realidades,
Mas que os sonhos sejam sempre maiores,
Uma vez que já estamos em casa...
Ibernise
Enviado por Ibernise em 01/05/2013
Reeditado em 06/06/2013
Código do texto: T4269171
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