ZÉ NINGUÉM

Morreu

Sem deixar filhos

Nem herança

Morreu

Sem molhar os olhos

Das carpideiras e

Sem provocar saudades

Morreu

Com dor no coração

Que nenhum médico

Conseguiu diagnosticar

Morreu

- Deve ter sido solidão

Morreu

Pra viver no purgatório

Com sua dor

Viveu

Querendo amar

Viveu

Cabisbaixo

Sempre olhando pro chão

Morreu

E deixou em seu leito

Além da psicometria

Difícil de decifrar

Um rabisco para alguém ler

Talvez as carpideiras

Estava escrito em letras trêmulas:

“Se Deus existe que ele tenha piedade de mim”

Morreu

O finado José...

Só não se sabe de quê.

Jô Pessanha
Enviado por Jô Pessanha em 01/05/2013
Código do texto: T4268467
Classificação de conteúdo: seguro