[Muito me estranho...]

Contrariando toda uma infância povoada

de histórias fantásticas como aquela acontecida

em Santa Juliana [MG, é claro],

quando dois sujeitos que foram tocaiar um padre,

foram encontrados mortos

em cima da égua que montavam, morta também...

E quando mamãe contou a história eu só disse:

“— tadinha da égua, mãe, por que o anjo matou ela também?!”—;

da presença às curas realizadas por espíritos;

do sonho de minha mãe em que os guias anunciaram morte dela;

das assombrações surgidas no entardecer

lá na Fazenda do Barreirão;

das manifestações de espíritos ruins,

moradores do chiqueiro dos porcos de engorda...

... contrariando tudo isso, eu descreio de mistérios,

e até hoje eu não sei como, e por que eu escrevo o que escrevo,

se é por obra de descompreender tudo que vi,

ou, então, por um [hereditário] vezo de narrador!

Nunca sei quem estava em mim, quem tripulava o meu olhar

enquanto eu escrevia certos textos — muito me estranho!

Até parece que de ponta a ponta, de palavra a palavra,

de um nó até outro nó da minha fieira de escritos,

eu nem sou eu só... há um trem que me viaja?!

Se eu me levasse a sério, eu endoidava!

Muito, muito me estranho...

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[Desterro, 29 de abril de 2013]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 29/04/2013
Reeditado em 29/04/2013
Código do texto: T4265601
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