[Muito me estranho...]
Contrariando toda uma infância povoada
de histórias fantásticas como aquela acontecida
em Santa Juliana [MG, é claro],
quando dois sujeitos que foram tocaiar um padre,
foram encontrados mortos
em cima da égua que montavam, morta também...
E quando mamãe contou a história eu só disse:
“— tadinha da égua, mãe, por que o anjo matou ela também?!”—;
da presença às curas realizadas por espíritos;
do sonho de minha mãe em que os guias anunciaram morte dela;
das assombrações surgidas no entardecer
lá na Fazenda do Barreirão;
das manifestações de espíritos ruins,
moradores do chiqueiro dos porcos de engorda...
... contrariando tudo isso, eu descreio de mistérios,
e até hoje eu não sei como, e por que eu escrevo o que escrevo,
se é por obra de descompreender tudo que vi,
ou, então, por um [hereditário] vezo de narrador!
Nunca sei quem estava em mim, quem tripulava o meu olhar
enquanto eu escrevia certos textos — muito me estranho!
Até parece que de ponta a ponta, de palavra a palavra,
de um nó até outro nó da minha fieira de escritos,
eu nem sou eu só... há um trem que me viaja?!
Se eu me levasse a sério, eu endoidava!
Muito, muito me estranho...
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[Desterro, 29 de abril de 2013]