SERTÃO

Eita!

que desse meu agreste não me arredo

Sou tinhoso, sou do sertão

sou inda igual o solo seco desse meu quinhão

Sou a água faltante

Sou de esperança transbordante

Noite estrelada sem um tico de nuvem

eu sou

a noite negra ilumiada pelas três Maria

e o Cruzeiro, meu guia, eu sou

Eita!

mandacaru, planta firme e resistente,

guarda a água no caule verde e viçoso,

e deixa o caipira contente

Que nosso santo, lá do alto, nosso protetor

Saio em romaria em seu louvor

Eita!

que dessa vida não me aperreio,

dela não desisto, tenho sangue guerreiro

Sou de pele seca queimada à sol,

pés firmes e com rachadura,

ando por léguas e léguas

em busca de água pra bebê e pra lavoura

Quero aqui ficá inté quando nosso pai desejar

e dar a ordem pra que eu morra

Inda que a vida seja difícil de levar,

eu que sempre aqui vivi, daqui não vou me arrebandar

Eita!

que sou tinhoso

ser do sertão, me faz orgulhoso