Quando ficam soltos os pensamentos
despregam-se dos momentos e voam
suas profundezas e distâncias e rapidez
e em sua falta de lucidez entoam canções
insanas, impuras, mundanas e irmanam
umas pobres almas apartadas, profanas,
como as dos loucos que se internam nos conventos
e inventam que são os deuses que espalham ventos
e semeam nossos piores sentimentos e os sofrimentos,
para com seus olhos atentos ficarem a olhar o tempo
e recolher nossos sonhos menos fortes, mortos, torpes,
para arrebanhar os tais pensamentos soltos que voam
e nunca retornam com outros ventos menos violentos.
Porque voam desatentos por tantos destes momentos,
a vida inteira que não passa de um reles momento
e que neste segundo passando tão rápido consome-se
e se desfaz em dores, amores, temores e esquecimentos.
Todo o tempo é o tempo que se esgota no tempo de um momento,
para deixar somente estes rastros na história, tão imperceptíveis,
ou essas marcas indeléveis na memória assim tão invisíveis,
essas verdades soltas na rua, cruas, nuas, impossíveis...

Depois do fim vem o fim, enfim!
Quem vai ficar para comer o resto de todos os pães?
Quem vai voltar para consolar o choro de nossas mães?

Depois do fim, ninguém vai querer saber de mim!
Vou estar solto no vento, morto no tempo, serei só pensamento.
Quem é que vai ficar para dizer da beleza disto às minhas irmãs?
Quem é que vai voltar para anunciar a última de todas as manhãs?
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 28/04/2013
Reeditado em 25/04/2021
Código do texto: T4263141
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