Paradoxo

Observo a rua. Tem um cruzamento e uma sinaleira. Uma sinaleira dessas das ruas das grandes metrópoles, normalmente urbano (essa palavra não saí da minha cabeça), uma sinaleira dessas que as pessoas cruzam, como os beatles fizeram e hoje vendem quadros com quatro caras que cantam hey jude, e o jude aqui está na janela fumando um cigarro. Troquei malboro por hollywood, troquei meia sem par por pés descalços e coloquei um carpete mais claro na sala, onde piso confortável, sem barulho nenhum nas escadas, os monstros da minha cabeça estão saindo na porta do edifício, eles nem fizeram muito barulho ao sair, não sei se pra não acordar os vizinhos, mas eles foram embora. Fumo. Fumo enquanto penso que em dias como esse, parece que quando o cigarro chega no filtro eu tenho logo que acender outro, vontade de fazer algo, talvez nem seja o vício em si.

Abri a janela pra colocar fora o cigarro e percebi que hoje estava mais frio que ontem, não havia o vento minuano do sul, só havia algumas pessoas lá em baixo, com seus cachecóis e fones nos ouvidos, só havia barulho de folhas e latas de refrigerantes e cervejas, só havia um certo lixo, e o rosto das pessoas que via de longe, algumas mais felizes que as outras, observo e observo que nada mudou. Sim as pessoas mudam o tempo inteiro, assim, como se eu fosse na cozinha agora pegar algo e voltasse, as pessoas iam mudar, mas a rua, não, a rua estava ali e tudo permancia do mesmo jeito, digo, as pessoas caminhando em alguma direção. As pessoas todas, às vezes fazendo mais sentido na nossa vida que horóscopo quanto acerta na previsão ou rock da nossa geração.

As pessoas todas, as vezes fazendo mais sentido que qualquer coisa. As pessoas todas essas, que não sei o nome; o seu não saí da minha cabeça, sorrio e choro, sorrio e choro. Estou feliz, mas estou com medo de nunca mais você passe nessa rua que olho agora. Vontade de fazer alguma coisa. De deixar a torneira ligada e depois lembrar que eu esqueci, só pra ter o que fazer. Observo a rua e me pergunto se você vai voltar a ela. Observo e algumas vezes me sinto fora do ninho por saber que não consigo estar lá no meio dessas pessoas.

Eu não consigo encontrar nada dentro desse apartamento, por vezes acho que a mesa realmente tem pés, tudo some do lugar, exceto os cigarros, sempre a mão, não vejo nada, os cigarros sim eu vejo. E você que me traga agora em lugar, que me traga na lembrança e na fumaça que saí da tua voz, por trás da lingua, gosto, voz rouca: tua boca, - céus, ponto de exclamação! Eu voltei a usar esses pontos que chamam a atenção, sua b-o-c-a! Me traga. Estou sempre decorando textos que só li uma vez, em algum lugar na vida, em algum muro, algum livro, alguma capa de cd. Mas eu te disse que em algum lugar a gente ia se encontrar, se a gente tiver que se encontrar em algum lugar desse mundo a gente vai.

Não consegui comer nada hoje, devo estar com algum problema no estômago. Meu sanduíche ficou na metade, quando resolvi descer as escadas e ver se tinha alguma correspondência. Não tinha, mas então lembrei que eu fiquei lendo a história dos correios, que começou somente com mulheres e mulheres joves, de escola, uniforme, de bicicleta, não lembro, não lembro bem, mas li lá naquele museo de porto alegre. Correio, carta, escrever, e-mail, ah, queria tanto te escrever, fecho os olhos; paroxidamente eu não consigo te ligar, perguntar como foi de viagem, eu não consigo estender essa história, quero dizer, consigo, mas, eu só quero que o destino de um jeito da gente se ver novamente sem que eu precise bater uma varinha invísivel, feito fada, mágica quem sabe, mas quero que seja natural.

Também não iria até a praça, não teria lugar pra sentar, lugares cheios demais. E agora acabei de lembrar que é terça feira, o que aconteceu com essa semana? Parecia domingo ainda. Não consigo tirar os olhos da sua boca, e nem na minha frente está. Vivo tudo e sinto tudo tão intensamente que não sei porque ainda não tirei o lixo e não me dei de conta que um dia vou sair ali na rua, vou olhar pra cima e ver que não estou na janela. Estou ali, quem sabe, indo comprar mais cigarros ou esperando você passar, estou ali, quem sabe, vivendo num clipe meu, onde não preciso assistir o trailer pra saber que essa é uma história que vai render muito ainda, contudo, por mais que os outros vestissem tuas roupas e tivessem o mesmo corte do teu cabelo, ou o mesmo jeito de caminhar, contudo, se tivesse pessoas parecidas contigo na rua que olho agora, mas que dessa vez não passa ninguém, contudo, acho que eu não vou esquecer nenhum detalhe, porque somente te quero mais.

E nem que a vida surte em girar em lados opostos, eu viro na contramão e insisto em te encontrar um dia. Eu faria todos os trabalhos voluntários do mundo com a intenção da vida me recompensar de tu vir pra cá logo novamente. Sei que deveria ter te dito, "revenir un jour, ma chérie", então firmo meus olhos fixos na tua foto agora, por trás dos cílios, pálpebras, por trás da cor infinita deles, encontro uma paz que procurei nos meus 24 anos de primaveras que nunca consegui aproveitar direito porque o topo da árvore de pitangas era maior que eu e eu não queria procurar escada. Encontro uma paz que nem se eu nadar contra a correnteza consigo parar de te olhar. Nunca precisei tomar dose dupla de tequila, nunca precisei tomar dose dupla de pessoa nenhuma, nunca precisei de dose de chuva pra me molhar, dose de fluoxetina ou lexotan, mas se eu não repetir a tua dose, eu acho que esqueço de lavar o rosto antes de dormir e fico com aquela cara de quem já acordou com dor de cabeça.

Meu deus, eu acho que estou com a visão embaçada, estou observando demais essa rua e sei que vai demorar pra passar, mas fico feliz em saber que não é falta de desejo de ambas, é a distância, essa que sinto agora dentro de mim. Mas quando me olhar novamente, numa próxima vez, saiba que meu olhar não estará mais longe como agora, estarei finalmente perto. Não vou planejar nada além de uma realidade que preciso viver. Mas, acho que se eu não sentir mais uma vez teu corpo nas minhas mãos, vou ser obrigada a estudar piano e estralar os dedos e fumar cigarros por muito tempo, porque não sei mais quanto tempo eu consigo esperar pra passar as mãos novamente nos teus doces lábios.

Porque hoje não vou assistir meu seriado preferido, mas amanhã (ou semana que vem) juro que tomo coragem pra te mandar um sinal de fumaça dizendo, "ei, não durma estou indo te buscar". Lembra? Então finalizo esse texto com aquela frase "gosto das pessoas pelo prazer de gostar e não porque deu tempo de gostar delas", até porque se tivesse existido mais tempo que esses três dias, eu não te gostaria, te apaixonaria. Eu trocaria minha guitarra imaginária pra ter você nos meus braços agora. É tudo um grande mistério não saber o que pode acontecer. O que me sobra além do ontem que não volta e do amanhã incerto, o que me sobra além do acaso, e da normalmidade, o que resta além de tudo igual, é você. E me resta com um sorriso nos lábios. Os interfones estão mudos, já é tarde e eu preciso dormir, que eu tenho que entender que existe um dia por trás dessa janela e existe vida por trás desses pensamentos que me levam a você. Mas eu sorrio, por saber, que desejo não falta, nem de mim, nem nem de você, então quem sabe quando você ou menos esperarmos, a gente se encontra.

...

Eu já escrevi essa história em algum lugar. Eu já tinha essa história em algum lugar. Mas então me lembrei que não, eu não tinha escrito essa história em lugar nenhum não, eu só tinha pensando que gostaria de viver. Amor urbano, amor interurbano, amor? Talvez não, talvez sim, não amor, mas essas histórias românticas, românticas, talvez não românticas, mas dessas histórias, que a gente vive só uma vez na vida e tua vida vira do avesso, dá um giro e muda completamente de um dia pro outro. Eu já escrevi essa história, não era em outro lugar, era aqui, da minha cabeça maluca. Acho que preciso de um cigarro, acho que preciso de uma bebida forte. Acho que preciso dormir por dois meses, pra quando acordar, olhar meu celular e ver se teu número está ali, se eu não sonhei tudo aquilo e não entrei em coma pela história ser tão linda.

Dessa vez não tem poema de Drummond e nem música do red hot que salve. Acho que realmente preciso de um calmante. Ou realmente precise dormir, pedir pra alguém me beliscar. Parece sonho, uma merda, nunca tinha vivido algo. Vou tentar explicar. Nunca tinha vivido algo além das ilusões dos meus textos, onde neles, eu moro sozinha, tenho um quatro patas, cortinas hippies, onde eu moro no último andar e ao abrir a janela, vejo um boteco comum, olho para as pessoas lá de baixo, pessoas comuns, com suas histórias e traumas, pessoas pedindo uma dose de tequila, pessoas vivendo, pessoas. Estou desde que saí daquela porta do teu carro tentando escrever algo. Ocupo minha cabeça com coisas que tenho pra resolver, mas parece que todos eles tem você. Ah, voltar pro meu objetivo de morar em Porto Alegre, conseguir um bom dinheiro primeiro ou um emprego temporário aqui, voltar pro meu objetivo de morar sozinha, voltar pro meu objetivo de enviar minha obra pra bienal de são paulo, voltar pra meu objetivo de ir cuidar da minha vida e descobrir quem sou.

Me referia que eu precisava de alguma coisa. Mas esqueço disso no momento que pisco os olhos e penso em você. Poderia me acalmar ou tomar um porre, escrever muito, mas eu só consigo ficar pensando. Pensando em coisas que não consigo escrever e nem contar pra alguém. Essa história me renderia bons textos se eu tivesse só vivido no sonho, onde eu acordaria depois de dois meses em coma e ficaria calma por ter sido um sonho comum. Mas foi real e eu estou tentando descobrir porque te achei a pessoa mais interessante do mundo, com milhões lá fora. Não me importo, já conheço tanto tua voz e teu jeito, que eu nem preciso de esforço pra lembrar dos teus traços. Talvez eu só precise viver tudo isso novamente. Não me ache despresível e sensível, eu só quero te sentir mais, então diz que o mundo é redondo e vai fazer a gente se escrever e não que o mundo é redondo e grande demais a ponto de tudo se perder. Tudo o quê? Não sei, acho que histórias como essa devem ser mais vividas que escritas.

A gente se encontra em algum lugar do mundo, meu bem? É essa a pergunta que fica. Eu posso dizer que sim, você pode dizer que sim, mas eu sou realista (embora você diga que sou pessimista) que o mundo é redondo demais pra gente ficar no mesmo lugar. Talvez por isso, quem sabe? A gente se encontre daqui alguns meses, quando você voltar pro Sul? Foi bonito demais pra despencar uma história em cima disso, não estou conseguindo escrever, não estou conseguindo ser clara, e isso me perturba. Agora descobri porque eu não consigo escrever. Eu não consigo porque eu quero escrever um só texto de todos os detalhes que a gente passou, de todos os gostos do teu corpo de todos os pequenos detalhes, desde tua mão segurada na minha naquele espaço no banco do teu carro me dizendo em silêncio como um "estou aqui agora". Desde um texto que eu já li em algum livro e aquele cigarro que acendi pra ti e coloquei na tua boca enquanto tu dirigia nessas ruas largas. Porque é tanta coisa que eu sinto que não vou conseguir escrever, desespero parece, seria, se eu não tivesse tão feliz por te conhecido.

Gosto de pensar que sim, a gente se encontra, sem que eu precise dormir dois meses inteiros e acordar pra ver se tudo foi realmente real. Sem que eu precise ficar imaginando daqui quando tempo vai ser, e se até lá muita coisa vai mudar ou não. Gosto de pensar que a gente se encontra, enquanto nós duas vivemos por aí, tu em outro estado. Gosto de pensar que sei que tu existe e que toma chimarrão pelas manhãs antes de trabalhar, assim como gosto de pensar que em algum momento vai pensar em mim. Assim como não gosto de pensar que daqui um ano ou meses é muito tempo e eu sou imediatalista. Tempos tempo? Não sei, temos, devemos ter.

Assim como não sei se confio no destino, assim como não sei se acredito nas pessoas, assim como não sei se acredito em astrologia, cartas, assim como não sei se posso acreditar, compreende? Assim como não gosto de pensar que talvez a gente tenha vivido tudo isso, mas foi só. Assim como não gosto de pensar que tem coisas que mudam de lugar, assim como me conheceu, pode viver tantas outras coisas, com outras pessoas. Assim como sei que o destino pode ser surpreendente, mas sacana. Assim como tenho medo de querer teu abraço, assim como tenho medo de não te ver nunca mais. Não me ache romântica, eu só sou o tipo de pessoa que tem que ter razão pra tudo.

Teu cheiro está comigo e até no meu relógio, gosto de pensar que mesmo eu tomando meus dois banhos que costumo tomar por dia, vou sentir teu cheiro em algum lugar. Gosto de pensar que eu vou te beijar novamente, colocar pra trás teus cabelos, e ficar te olhando até tu me perguntar o que eu tava pensando, eu queria ter dito que estava pensando que queria viver tudo isso novamente, tantas vezes, tantas vezes. Gosto de pensar que se cruzou o meu caminho não foi ao além, não foi a toa, gosto de pensar na fé, e nas pulseirinhas do bomfim, gosto de pensar que pra te lembrar eu posso fumar Carlton, o cigarro que eu não costumo fumar, mas que tu fuma, gosto de saber que pra te reviver, nem precisa eu fechar os olhos, consigo lembrar de tudo assim como em cada piscar de olhos. Gosto de pensar na frase que tu disse ontem: se eu não quissese te ver, e não estaria falando contigo essa hora no telefone. Gosto de pensar que tu sente, eu sei que sente algo, gosto de pensar que a gente vai conversar, nem precisa ser todo dia, só pra eu saber que em algum lugar do mundo tu está.

Medo da vida? Medo da gente nunca viver isso novamente. Medo de eu estar sendo dramática demais numa coisa que talvez não tenha sido muito. Mas penso, que vai continuar vivendo tua vida, dando teus telefonemas e tuas reuniões, com tua voz cada vez mais rouca e alta, e vivendo, apenas vivendo tua vida como sempre foi, sem lembrar que a gente viveu tudo isso, ou sem pensar na vontade de voltar. Eu estou sendo pessimista, mas queria que me conhecesse o suficiente pra ver que não sou.

Queria que me conhecesse o suficiente pra saber a pessoa que eu sou. Queria te mostrar um outro lado de mim, queria que você soubesse mais da minha vida, talvez nem tenha o que contar. Queria que hoje quando deitasse, antes de dormir, lembrasse de mim e me ligasse. Queria que o mundo fosse um pouco mais pequeno e que o dia tivesse apenas 12 horas, pra passar mais rápido o tempo, e quem sabe, um dia te encontar. Queria não pensar no que pode ou não acontecer, mas tu já me aconteceu, não tenho previsão de nada, mas te quero em outras estações.

Quero tanto te escrever, mas não consigo. Me perdoa. Queria tanto viver tudo isso novamente, que a única frase que fica rodando é essa, meu pensamento o tempo todo, no porque tudo foi intenso, no porque a melhor sensação foi te sentir, no porque de tantas coisas, e só conclui que eu precisava te ver mais, mais, viver mais, te olhar mais vezes. Minhas mãos estão quentes, acho que está segurando as minhas, acabei de te sentir. Não sei como, mas senti. Parece que consigo sentir o gosto do teu beijo, eu já te conheço tanto, parece que eu consigo sair ali naquela porta e te ver ali, como hoje. Gosto de pensar que ter te conhecido, é o suficiente, que pessoa maravilhosa que tu é.

Agora eu choro. Se você me ler não pensa em nada como eu estou fazendo. Não me pergunte nada. Só me diga que passe o tempo que for, um dia a gente se encontra. Por favor, não vem com a história como todo mundo faz, que ah, é melhor pararmos por aqui, não faz isso comigo. Só diz que tudo que basta é a gente manter contato, só diz que eu não preciso sofrer pro atencipação. Me faz trocar essa música da Gadu e me faz lembrar daquela frase engraçada que tu disse: vamos surfar? eu surfo em mim e eu em ti. E teu cheiro, teu gosto, tua respiração, merda, pareço louco, pareço apaixonada, pareço desesperada. Na verdade estou feliz por ter te conhecido. Na verdade estou feliz por não conseguir terminar aqui essa história.

Olhei pra trás ao abrir o portão da minha casa. Eu sabia que você iria embora. Talvez não da minha vida, mas da minha cidade. Olhei pra trás e tu continuava com o carro na esquina. Nem sei qual era minha vontade maior. De chorar ou voltar correndo pra te dizer o que não disse ao bater a porta daquele carro. Pra te dizer tudo isso que escrevo agora. E pra te dizer que eu estava contigo, pensando em ti, na estrada que agora tu viajava, isso escrevi duas horas da tarde, agora passa das oito, e ainda continuo contigo e te sentindo. Assim como mágica, quem sabe? Assim como essas coisas bonitas da vida, quem sabe? Então eu penso que assim como a gente se cruzou naquele show, a gente vai se cruzar. Então, quem sabe, a gente viva mais de todas essas horas que a gente já viveu e então quem sabe, eu possa dizer que tenho um amor urbano ou interurbano que está comigo, mesmo quando está lá. Acho que você já me levou mesmo, meu corpo não está nem aqui.

Então saiba que aonde quer que eu vá, em qualquer boteco, fumando qualquer cigarro, bebendo qualquer cerveja, trabalhando, vivendo, saiba que tem uma coisa tua em mim que não foi embora junto contigo e que espero que volte pra isso fazer mais sentido. Termino com três pontos, porque não quero dar ponto final...

Ao som de, "Queria ser navegador

Desse teu mundo estelar

Lua que amansa o meu desejo

Estrela azul, me leva."

Estou deitada na cama nua. A expressão do meu rosto mudou. Vou dormir calma por ter escrito alguma coisa, apesar dos meus cigarros terem acabado e apesar de eu ainda não saber nada sobre o amanhã. Estou tão feliz por ter te conhecido. Só isso.

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Dois cafés
Enviado por Dois cafés em 23/04/2013
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