MUSA NO MEIO DA NOITE
Em verdade, apercebo-me de que a Beleza te acompanha muito de perto. Este é um dom fruto da convivência com o “estranhamento” em Poética. Desta sorte, tua conduta foge ao costumeiro sentir dos usuários das redes sociais, em especial no Face. Nota-se isto na intertextualidade com que expressas a tua busca estética, forte nos exemplares que publicas amorosamente na qualidade de poeta-leitora. Revelam o teu bom gosto e o “feeling” para o bom poema. Há, neste contexto de arte da palavra, um ar rarefeito e/ou uma rarefação da figura corpórea para ficar reduzida às sensações do sentir. E isto tem tradução psicanalítica: temores ou medos de quem não tem plenitude de domínio sobre os dias escuros da hostilidade fática e que os pretende alumbrados pelo fetiche da Poética, a qual – em louvação aos sigilos – reduz-se à palavra, tênue e simplória, como de sua imanente natureza. Vivifica-se pra não morrer nem correr risco. Batidas compassadas e tímidas do coração... Viste como és musa para o teu antigo e respeitoso amigo que se pretende poeta? Alguns têm essa capacidade de entrega à Palavra. Digo mais: são muito poucos. Em regra, a criatura condenada à Poesia deseja o intimismo das pretensiosas falas dos fantasmas noturnos, onde todos os gatos são pardos. A pretensão é um vulto tênue. Nela estão os véus e dentro dela mora a própria poética dos vultos, dos fantasmas da estética. Talvez estes sejam deveras notívagos na mais íntima composição traduzida nos vocábulos. Pelo que percebo, voltamos à dimensão da Poesia, em sua rarefação de corpos. Apenas o véu sobre a Palavra. Pobre de nós, que sofremos de Poeticidade. Deixo-te com a sensação de que perdi a parte andrógina e somente fica a opção pelo gozo dos neurônios assexuados. Enfim, a Musa de que sempre se ouve falar desde o tempo dos gregos. Boa noite! Sim, há novo texto surgindo, porque os fantasmas amoráveis têm esse condão: o de transfigurar e transfixar a Palavra...
– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013/17 (texto revisado).
http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/4254656