Viro água
Eu gosto de mar manso. Gosto de água, da sua suavidade penetrando a pele. A água do mar é especial. Tem uma beleza que mistura ternura e bravura. Coisa que gosto de fazer nas raras vezes que consigo ir à praia é boiar. Sentir o meu corpo flutuando sobre as águas salgadas é uma experiência única para mim. Eu não vejo o tempo passar. O mundo lá fora não existe mais. Parece que eu viro água e abraço céu. Fecho os olhos e não penso em nada. É místico. Só ouço os pequenos burburinhos da água salgada em meus ouvidos ressoando delicadamente. Transcendo, na medida em que, as vozes das banalidades da vida fogem para longe de mim. O mar por si só já é presença de Deus. Sinto como se o mar fosse uma junção de todas as lágrimas de Deus. É como se eu pudesse levitar. Mas, em algum momento, acordo desse sonho marinho que me deixa tão livre. Descubro que ainda tenho meus cativeiros interiores e não estou pronta para a liberdade do barquinho que é jogado em alto mar. Tenho medo das águas marinhas me levarem a algum canto desconhecido. Então, contento-me com a minha breve fuga da realidade que de algum modo me faz ressurgir de minhas cinzas cotidianas. Por um momento meu corpo vira água do mar. E me sinto a estrela mais linda do oceano.
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Inspirações:
"Estou adoecida de amor. Põe a mão em mim, viro água” fala da personagem Doralda, do livro Corpo de Baile, de Guimarães Rosa.
Documentário- Elena (2012) - trailer
http://www.youtube.com/ElenaFilme