vida. pra quê te quero vida?
pela manhã te amo.
a tarde me espanto, a noite me encanto.
noutro dia te lamento, te odeio.
queres me viva quase morta.
queres me bem, vivendo tão mal.
queres me esperta, tratada como animal.
nada te preocupa de fato, só aparência minha carência me aniquila, minha sina me destrutina. minha dor só aglutina.
peço te, rogo te
há anos de vida parca.
me faça morta ´só nada consigo.
nem a corda nem a água de sabor veneno.
nem o mar, nem a ponte acima do rio ainda que pequeno.
mentes cansadas, perturbadas, ameaçadoras.
cabeças poluídas, quase encardidas, o mal em qualquer anglo do olhar.
se decerro a cortina, choro só no palco da morte em vida.
se canto um tango, choro de tedio crescente.
se ouço um canto bem feito, choram meus olhos que eram mansos.
vida" poso assim dizer, vida
¨?
há tempos tento.
tento me antenar.
me antenar enquanto há tempo.
mas nada em canto algum, encontro paz.
sou eu, sim, assim, bruta e grosseira.
eles me assim fizeram, veio a vida e ajudou a decapar a pele, desmontar a almA, roubar o coração.
sim! nasci como tu.
fui expurgada nas mãos de alguém.
suja de sangue e feia como um sapo.
chorei para avisar que vivia, mas......
ninguém para avisar que vida seria.
o que foi aquilo que vivi ?
o que é isso que me impõe a viver?
desterro, tropeço, dor inacabada.
experiência de vida chamada de mágoa , manchada de carência certeira, chamada de vida normal.
abandonada sempre, mesmo que recolhida sempre.
preconceito arraigado, sempre.
cabelo, a roupa , ao riso, a verdade ou a mentira.
raça, sexo, religião.
doença, rebelião.
tudo em exaustão.
pra que te quero vida?
acalmar passear, trabalhar.
independente, só um pouco carente.
só um pouco semente, dormente, temente.
um pouco resplandecente, somente pouco ausente.
sem tantas perdas, esclusa sorrateiramente.
emergir rapidamente, submergir automaticamente.