PELO ARES, SEM PESARES

PELOS ARES, SEM PESARES

Sol escaldante.

Céu azul, cintilante.

Quietude, mormaço.

Pássaros a procura de qualquer espaço

Asas abertas, tentativa vã de refrescar-se.

Um rápido voo até a pequena poça d’água

Que na calçada se formou.

Saciar a sede, banhar-se na improvisada piscina

Molhar todas penas, centenas

Antes que o sol , na sua insaciável voracidade,

Absorva o oásis. Transforme-o em vapor.

Tudo parado, quieto.

O vento se mandou para outras paragens

para sentir o cheiro de mato, o farfalhar de folhas secas

Ou ouvir o barulho cadenciado das ondas do mar, lavando a areia branca

Água morna, espumante

Ar puro. Longe do monóxido de carbono e chaminés fumegantes,

que o envenena.

Longe da agitação da multidão a discutir seus problemas

suas ilusões, seus desenganos, suas conquistas.

Formigueiro humano a transitar no asfalto, sem rumo.

Do alto do meu prédio busco o frescor da brisa.

Para amainar o suor que dos poros brota

Tentativa sábia da natureza para manter o equilíbrio

Que o metabolismo do corpo exige.

Posso daqui vislumbrar o perfil desses pequenos voadores.

A claridade e a distância camuflam suas cores sua raça, sua graça.

Que importa! Pontos pretos a bailar no azul límpido do céu.

Inveja desses seres. Do privilégio de desfrutar do ar puro, fresco

que a altitude se nos oferece..

Pontinhos que se movem em cadenciado compasso

Ao sabor das correntes de ar, plainando em suave harmonia.

Asas abertas, hirtas. Coreografia perfeita.

Lembrei-me de ÍCARO. Que pássaro um dia pássaro quis ser.

Do seu fracasso e de tantos outros que tentaram

Transmudar-se em aves, para livre voar.

Tentativas vãs, fracassos, pequenas conquistas.

Vidas perdidas a enfrentar as leis da física.

Voar, ganhar o espaço, ir além das nuvens

Chegar a tantos lugares e pousar em terra firme,

Suavemente, como um condor

Todo desafio impulsiona o homem determinado.

E assim, passo a passo, rústicas, sofisticadas

Sua naves construíram. E como pássaros

Para além das nuvens se aventuraram.

E, lá do alto, a humanidade pode ouvir

A frase que eternizou o astronauta russo Yuri Gagari.

Voz embargada diante daquela bola azul gigante, livre, solta

A girar no espaço: “A terra é azul”.

“E eu não vi Deus”.

E anos mais tarde a contestação de Neil Armstrong:

“Bastaria ele descer da sua nave, que certamente O veria!”

Até hoje emociono-me ao lembrar da manhã ensolarada de l969.

Momentos de silenciosa expectativa no nosso planeta.

E uma voz digitalizada, mas trêmula, por humana ser,

Ecoou pelo Universo.

Era o astronauta americano

Neil Armstrong, o coração a 150 BPM

“Houston, aqui tudo tranquilo”

“A ÁGUIA POUSOU’..

Explosão de euforia e alívio no planeta terra.

O Homem conquistara a lua.

Sou fã da competência desses humanos pássaros

Que nossas aeronaves conduzem pelo espaço.

Transportando vidas e sonhos tantos...

Piloto de almas. Para encontros e desencontros.

É hora do embarque!

Lá está ele.

Barbear perfeito. Sorriso descontraído.

Na sua cabine, botões e manetes, teclas, luzes, comandos

Ele é o cérebro daquele gigante de aço

Como domador o vencer a lei da gravidade.

Na minha adolescência, meu impossível sonho de consumo.

Inveja doída das “aeromoças”, lindas, uniformes impecáveis

que liberdade tinham de deambular para lá e para cá.

Falar com o comandante!

Tanto tempo se passou...

Na minha última viagem internacional

O comandante era barrigudo, grandes bigodes e chamava-se Manoel.

As comissárias de bordo a exibir algumas rugas - não eram mais” aeromoças”

Minha filha, no seu gargalhar juvenil, acrescentou:

- Mãe, o tempo para elas também passou”

Agora são “aerovelhas”.

Mas não perdi a esperança de viajar, um dia, com um jovem piloto.

Sério, casado, (e bem casado), elegante. Barbear impecável.

Parecido com aqueles do meu tempo de juventude.

Com ele na cabine, avião quadrimotor, para além das nuvens...

Doze mil pés!!!

Atravessar o céu azul do Brasil e das três Américas. Ou dos cinco continentes?

E seguros, aterrissaremos em distantes paragens

ao alvorecer.

Fim da escala.

Na porta da cabine, a despedir de cada passageiro,

Num gesto educado e ligeiro.

Estará o jovem piloto.

Finalmente chegou a hora do descanso do guerreiro.

Rever a amada esposa, que ansiosa o espera.

Braços abertos para receber o seu amado amante.

Fazer uma massagem nos ombros, no corpo inteiro.

Matar a saudade, tanta e quanta!

Do seu “Pequeno príncipe” que no seu colo pousou, finalmente.

Maggá

.

.