(IN)CONFISSÕES – Um duo reflexivo!



GRAÇA - No topo das horas dos disfarces, o olho do sol arde-me os olhos e a luz que alumia o dia faz-me olvidar, em breve, um descontentamento, na procissão do medo que vem desfilando, intento vigilante a confrontar-me o peito.

Hilde – Escape... Deusa dos sentimentos perfeitos, desse assoalho que assola o teu peito e retenha nele só a luz e as boas lembranças que sei desfilam pela soleira de tuas retinas brilhantes e da tez macia da tua altivez.

GRAÇA - Confesso de mim um tanto e escondo de tudo o pranto. Sorrio de qualquer coisa, combino a qualquer preço, matuto um complemento, tento escapar de que... Prenúncios do confessar. Confesso?

Hilde – Ah esse momento perverso que nos faz sentir e esconder ao mesmo tempo deixando a lágrima presa na comporta da alma quando ela pede para banhar a face... Como dói retê-la... Deixe-a a cair e a confronte o sal dela com o mel dos seus lábios.

GRAÇA - No ir e vir dos mínimos processos, no gesto e na fala, silêncio e pisar, no escorregar, no jeito que se vai ao chão, nos pesadelos, sonhos e incrementos, em todos os trejeitos da “razão” ou dos vacilos, nas camuflagens da oralidade...

Hilde – Nosso eu insiste em representar no palco da vida, quando até fica mais fácil apenas ser, dialogar com a simplicidade desse ser e vir a afastar os fantasmas da complexidade de perder-se nos nossos misteriosos e impenetráveis labirintos da razão. O bom é o grito que dás aqui se banhando de emoção pura e genuína.

GRAÇA - Pecados? Oh, astúcia, que pensa ser melhor a seu tempo! Olho no olho, diante do espelho, encaro a cena e interpreto. Olho no olho do outro, sei que, no engano, aprendo. Mais além, feras poluentes adentram fértil / mente à criação de pesadelos. E é nessa hora, que ouço o silenciar do coração, quando estou frente a frente de mim, e tenho a visão do que negava ver...

Hilde – Sim... O pecado deve morar sempre ao lado, equidistante, ou em cima, na soberba ou embaixo na humilhação, mas nunca olho no olho que é o da verdade, da igualdade, da convicção, onde não sobrevive a poluição e está no ritmo, no diapasão, no compasso do coração. Ter pesadelo é estar fora do eixo da fertilidade boa da criação, a menos que o projeto seja de tragédia grega a ensaiar novas peças teatrais... Aí pode ser até interessante essa construção hamletiana de fecunda interpretação.

GRAÇA - Eu vejo uma cadeira a balançar na ala ríspida do julgamento e sei que confesso, nos mínimos detalhes, o que posso, o que não posso, o que vejo, ou imagino... Confesso mentiras, verdades nas múltiplas facetas das adversidades. Confesso o que fiz e o que não fiz nas profecias e conquistas dos desejos incontestes. Sei que mesmo muda, confesso!

Hilde – Olha... Se o teu olhar for de juiz severo, contra si própria... O veredicto será sempre austero... Eu proponho que o teu “causídico” seja mais amigável diante da constatação da tua genuína humanidade, mas isso não quer dizer que sejas leniente para com o pecado que habita nossas entranhas, mas e tão somente empreste a ele o teu belo, artístico, profético olhar poético.

Duo: Graça Campos/ Hildebrando Menezes

Navegando Amor e Maria das Graças Araújo Campos
Enviado por Navegando Amor em 16/04/2013
Reeditado em 16/04/2013
Código do texto: T4244116
Classificação de conteúdo: seguro