Folhas - Símbolos da Liberdade

Eu a recolhi na areia da praia. Já estava sem vida.

Ela partiu deixando o seu corpo para a Terra cartorária, mas o seu esplendor seguirá comigo...

Ouvindo músicas clássicas, entoei hinos à majestosa via expressa,

Na qual circulamos livremente e velozmente nestes momentos, os nossos mais puros sentimentos.

E percebo que teimosamente eles tentam sobreviver aos encantamentos pelo mundo das matérias vãs.

Encho-me de paz de espírito e deixo o amor me dominar, me envolver e começo a voar, levitar...

Sinto-me levado pelos ventos para os campos, para os jardins, para os ares da primavera, voando sobre os mares, as montanhas, os rincões do interior, sobre as paisagens de hoje e de ontem.

Mas quando, como num arroubo de eternidade, Eu penso em caminhar no futuro, percebo que o meu corpo se desfez e só meu espírito lá chegará.

A Terra como proprietária cartorária reclamará a sua posse no seu tempo devido, mas um dia Eu chegarei Lá.

Hoje Eu olhei a morte de uma folha e exultei a Sua liberdade.

Nossas perdas se parecem, de uma pessoa a uma folha, muda apenas o valor que damos a cada qual.

Alguns sentem dó na falta de alguém, outros sentem dó na presença de alguém, que de velho muda as suas cores para pálidas e ocras...

Da leveza da folha e de nossa leveza, se parece somente o apego à vida.

Eu acompanhei a sua morte.

Vi-a em cores verdes, fortes.

Mas fraca ao vento traiçoeiro que transforma a vida, a muda de lugar.

Ora brisa, ora ventania que geme feito coveiro da eternidade.

E, repentinamente, ela lançou-se no espaço vazio em busca da sua liberdade...

A folha, por momentos embalou-se nos ares e encantou-se com a distância percorrida.

Nunca tinha se separado da árvore e nem conhecido o mundo estranho, de tão de perto.

Queria sempre ser como os pássaros, seus hóspedes, a voar, voar e voar. Mas sabia que ao separar-se da árvore, a sua vida tinha-se partido.

Tanto tempo olhando a mesmice do mundo lá do alto e agora tantas emoções em tão poucas horas

Próxima da Terra, seu dorso recolheu-se e numa lufada do vento caiu de bordo.

Suas nervuras ficaram expostas e ainda havia alguma seiva de vida em seu caule intumescido.

Ali seria seu túmulo, não fossem as águas da chuva que vindas subitamente por sobre as copas das árvores, alagaram o ribeirão e também sobrando invadiram o calçadão.

Boiou e foi levada pela correnteza, corredeira abaixo até o riacho e de lá

partiu em direção ao mar em alta velocidade.

Seus sentidos estavam quase lhe faltando quando adentrou ao Mar e percebeu a sua fúria e a sua força.

Ali se desfez a sua vida.

Nada mais era do que apenas uma folha inerte.

Morta, desfigurada.

Robertson
Enviado por Robertson em 15/04/2013
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