Nas águas de Iemanjá

Pego meu catamarã lilás que batizei com o nome dela e ajudo-a a subir. Iço as velas e rapidamente me desloco para o mar. Com ela ao meu lado.

Seus cabelos esvoaçando ao vento delicia minh'alma. Literalmente, babo ao olhá-la.

Ela diz – O que foi?

Pego de surpresa, respondo: - Nada não, só estava olhando você.

Não chega não? Vai me secar, diz sorrindo.

A geladeira portátil está com sua bebida preferida: Amarula. Trouxe também alguns drinques de vodka e um pouco de absinto (pra viajar...) no caso de ouvir o que mais quero.

Um pouco distante de uma pequena ilha onde as águas são azuis, paro o pequeno barco e jogo a âncora.

Nessas empreitadas ela sempre fica muito calada. Por baixo dos óculos escuros não consigo ver o que diz seu olhar. O sol está maravilhoso. Tudo está perfeito.

Não estou ansioso, mas não consigo segurar a minha pergunta:

E aí? Como uma mulher como você consegue lidar com essa coisa tão diferente que é esse amor incomum, surreal, impossível à quase todos os olhos e que perdura por quase três anos sem diminuir um milímetro sequer? Pelo contrário, acho que fortaleceu, de alguma forma. O que sentes realmente?

Ela pega uma caixinha plástica com cuidado devido ao balanço do barco, retira calmamente suas lentes de contato, colocando-as no estojo.

Sempre sorrindo com seu jeito matreiro e instigante que só eu conheço, tira o biquíni colorido devagarzinho, deixando-me ver todo seu corpo magro e torneado brilhando ao sol.

Mergulha para os braços de Iemanjá e se distancia nadando alguns metros.

Enxergando de longe minha imagem um pouco disforme devido à sua miopia, -coisa que muito me atrai-, grita para mim sorrindo:

Venha! A água está uma delícia!

Tiro minha bermuda e mergulho em sua direção, feliz como um adolescente.

Nesse mergulho, ao sentir o choque da água fria, penetro e viajo transcendentalmente em um universo que criei para continuar amando-a, desejando-a, enaltecendo toda a sua forma de ser, independente da realidade ou ilusão. Coisa que só a própria Iemanjá saberá explicar, pois o ser humano ainda não está preparado pra tanta sublimação.

Amar ou não amar? Eis a questão. Eu amo. E quero amá-la.

O que importa é o sentimento e o gozo que isso me proporciona.

Felicidade? Quem sabe o que é? Para mim pode ser isso.

02/13