"A DAMA DA JANELA "
(Dedicado à Dona Nabel, 1912-2011)
Seu mundo é a janela; em torno dela,
o mundo paira sem parar.
Não lhe falta o sonho ao coração,
nem carinho à alma.
Veste a blusa de seda,
penteia os cabelos, pinta os lábios,
posta-se na janela
e sorri para quem passa,
Que sonhos ainda terá a dama da janela,
que de não ir nem vir, guarda a aparência
de os sonhos, não perder.
E o não sabendo,, invento-lhe ilusões
que possa tê-las. A dama da janela,
que de não ir além, recosta-se e sorri
com meus olhos de janela.
Quando chega a tardezinha, ela ainda espera
a noite e a tristeza noturna.
Ela teme não ter flores
para desenhar na respiração do vidro
as flores da janela.
Hora! Uma recordação pede um pouco de jasmim
com o brilho do pó das estrelas,
quando uma luz alva de lua vem
e molha seus olhos com as lágrimas da garoa fria
que não sente. Ainda é ela a enfeitar
a alma, na solidão de sua janela.