A dor de uma vida


As folhas caem,
e os galhos permanecem,
alicerçado na árvore da vida.
Quando o vento assopra,
e apita naquela direção,
aplaina todo o solo,
elevando nas alturas,
as únicas folhas do verão,
adormecidas na aflição,
do bioma que não faz ecosistema,

Se as folhas caem,
o galho fica como um escudo,
balançando sem folhas,
brotando as esperanças,
num largo deserto sem flores,
E sem folhas.
Brotos, caules suculentos e cinzentos,
mostram o verde da vida partido,
sacolejando no tempo,
tão amarelas no amanhecer,
Na esquina em que dobra o rio,
é o visual da primeira curva,
entre as pitombeiras e palmeiras,
Lá... Vê-se o coco babaçu.

As folhas caem,
é uma perdição horizontal,
Talvez, multissecular no sertão.
Ali vai perfilando o limbo,
o pêssego do sossego,
Ali novamente caem as folhas,
Que sugaram a água de cada árvore,
Na vida daquela pobre existência.
Talvez, desmoronam-se para reviver,
as enormes raízes no solo escabroso,
e quando a seca vem,
as folhas caem, salvando a mãe raiz,.
Quiçá! Com muita dó dos troncos,
necessitando respirar na secura,
na lagoa dos velhos caminhos.

E as folhas caem,
sem presumir o respingo,
na coloração do viver,
em pleno rodízio das brisas,
levando o ar na perfeição,
incolor como um sambista,
requebrando para um lado,
dançando para o outro.
A única e bela flor na ventania,
na aridez que abana a seca,
o sol forte que faz evaporar a dor,
e o orvalho que ilude a lua,
Em cada estação que demora a chegar.
As folhas caem,
Entre o riacho seco embriagado pelo rei sol,
na beirinha de um certo lugar,
Não atravessa e pasma,
e por ali não corre mais,
o mosaico temporal da arte.

As folhas caem,
a vegetação padece,
e o todo o céu escurece,
na longa e louca estiagem,
por todas as margens,
é a falta da miragem,
daquele empíreo nublado,
que não cai um pingo dágua.
Ai como dói a vida do sertanejo!
O vento estéril não refresca,
incomoda a essência amarela,
da planta da caatinga,
e suas folhas com feição de espinho,
pousa no último galho,
o anum preto do capoeirão,
triste na tarde do sertão,
ainda canta a mesma canção.

E as folhas caem,
revoando sem ornamento,
a deprimida árvore sem folhas,
numa orquestra sem música,
não há no chão nenhuma magazine,
daquela perdição do meu sertão.
Faz pingo de lágrimas,
desabarem do céu na face,
escorrendo pelo peito,
e se desfaz nas promessas.

E as folhas caíram,
nasceu a soja e a mamona,
o gado invadiu a caatinga,
o homem derruba as palmeiras,
edifica grandes fazendas e campos,
como se fosse na época do império,
primazia de criar gado no Brasil Colônia.
As folhas caem,
racha o chão em pedaços,
Sem mata clara e tão aberta,
aflora o clima sem predomínio,
O açude seca e as folhas caem,
no desespero dessa vida,
não há uma guarida,
Todas enganadas pelas mãos do homem.



Escrita em 02 de março de 1995

Vídeo:

http://www.youtube.com/watch?v=PKWVDzmTaOc



ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 07/04/2013
Código do texto: T4227705
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.