URGÊNCIA, VONTADE, IMPOTÊNCIA
Há dias em que despertamos ausentes de nos mesmos, deixamos sonolentos os lençóis e a cama melindrados e duvidosos da real necessidade do ato, aceitando o agir mecânico e automático da imposição do fato, contra os impulsos da simples vontade.
Então, nos surpreendemos como um mero objeto de osso e carne, como uma animada coisa entre outras coisas, que meramente cumpre suas funções no formalismo de opacas rotinas que absolutamente não levam as ultimas consequências qualquer vida humana.
Agrava tal experiência a triste constatação de que nossa expectativa de vida normalmente não ultrapassa a aventura de algumas ralas décadas de existência das quais, a maior parte do tempo, passamos desocupados de nós mesmos, entretidos com os imperativos objetivos da mera sobrevivência formal.
Três palavras são suficientes para expressar meus sentimentos referentes à vivência aqui exposta:
URGÊNCIA... é tudo que me vem a cabeça quando penso nisso, uma urgência selvagem e impulsiva, quase ilegível.
VONTADE... é tudo em que me vejo contido em discreto desespero entre as grades do cotidiano.
IMPOTÊNCIA... é tudo que sinto quando percebo o quanto tudo na vida é efêmero e passageiro e, entretanto, não somos capazes de transcender as meras circunstâncias.