LUTO
Hoje entrego-me a todo movimento aleatório
Existente no espaço cósmico.
Sou vendaval, redemoinho, ventania, temporal,
Sou brisa, neblina, nevoeiro, aurora boreal...
Não suporto mais correr certinha numa linha
Expondo meus pontos acumulados pelo tempo.
Preciso desvendar os mistérios do insucesso,
Dos exemplos que não convencem,
Das instruções não seguidas.
Não insisto nem resisto,
Mas permito que os temporais da noite
Espalhem minhas folhas velhas e desidratadas
Em todos os cantos do universo.
Sinto meu intelecto adormecido e sem cor,
São tantos caminhos marcados pela dor
Da resistência, das palavras lógicas em vão.
Acho que vou me soprar
Inflar meu desânimo até explodir
Será que vou resistir, ver partir
Meus dons, minhas ideias, minhas certezas
Minhas loucuras camufladas no meu breu interior?
As cores que invento ninguém vê, só os passos básicos do meu dia,
Vasculho por todos os lados sementes férteis
Planto ideias em canteiros adubados no chão
Regados com água doce da chuva, em vão
Nascem folhagens em preto e branco
Então me dispo, me olho, choro...
e a moldura da noite me envolve.