Ficando em casa comigo.
Por Carlos Sena
Hoje eu decidi ficar sozinho. Lá dentro do quarto, minha mãe dorme o sono dos justos. Lá fora os amigos se foram em busca da felicidade. Tentaram me levar, mas eu lhes disse que não, porque hoje eu estou meio assim, como que sendo eu mesmo inteiro. Dei-me a esse luxo de não sair para a balada, para noite, como dizem. Fiquei comigo, com a noite e com os amigos. Menos com minha mãe. Não se fica com a mãe mesmo que ela já esteja no outro lado da eternidade. Porque mãe independe de tempo, de espaço, de vida e de morte. Mãe é a simbiose da vida por ela mesma e pelos outros. Por isso, digo que ela está lá no quarto dormindo, exercitando o peso dos anos que nem sempre ela sabe conduzir sem cansaço.
Acho que o ser humano depois dos quarenta anos deve começar um exercício pouco recomendado pelas academias de ginásticas, pelos médicos e pela vida: exercitar a solidão consentida. Explico: ao ser humano, quando nasce, a natureza lhe concede a solidão como recompensa pela luz que ela nos faculta sem custos adicionais. A luz da vida nos segue a trilha de toda nossa existência, mas vai cobrando sua conta em cada fase que a gente se encontra nela. Por isso, exercitar a solidão é salutar, pois como a morte a solidão bate a nossa porta mais cedo ou mais tarde. Não é a solidão de homem com mulher, nem de família, nem de amigos. É a solidão da vida por ela mesma! Porque ao ser humano a vida lhe concedeu a cilada de ser eterno em cada minuto, mas também de ser também minuto sem eternidade. Algo como a vida ensinando depois que a gente deixou a “faculdade”...
Hoje eu decidi ficar sozinho. Esse é um exercício que tenho aprendido para sobreviver em paz. A paz dos mosteiros, a paz dos montes, a paz de Deus. Lá fora a casa das horas acalenta o tempo que passa incólume. Aqui dentro a paz se faz inteira pela certeza de que o compromisso de viver sendo feliz se cumpre. Cumpre-se acima de tudo, porque a vida se deita na arquibancada do time que ganha, enquanto os holofotes do existir se vão, paulatinamente apagando. Daqui a pouco os amigos chegam da balada. Ou da noitada. Poderão pasmar diante da minha cara tranquila e feliz. Se algum dele me perguntar se eu gosto de ficar sozinho, certamente lhe direi que não. Ao ser humano não compete a solidão. Dir-lhe-ei que fiquei comigo no exercício de me perder e me encontrar de mim mesmo a noite toda... Em paz.
Por Carlos Sena
Hoje eu decidi ficar sozinho. Lá dentro do quarto, minha mãe dorme o sono dos justos. Lá fora os amigos se foram em busca da felicidade. Tentaram me levar, mas eu lhes disse que não, porque hoje eu estou meio assim, como que sendo eu mesmo inteiro. Dei-me a esse luxo de não sair para a balada, para noite, como dizem. Fiquei comigo, com a noite e com os amigos. Menos com minha mãe. Não se fica com a mãe mesmo que ela já esteja no outro lado da eternidade. Porque mãe independe de tempo, de espaço, de vida e de morte. Mãe é a simbiose da vida por ela mesma e pelos outros. Por isso, digo que ela está lá no quarto dormindo, exercitando o peso dos anos que nem sempre ela sabe conduzir sem cansaço.
Acho que o ser humano depois dos quarenta anos deve começar um exercício pouco recomendado pelas academias de ginásticas, pelos médicos e pela vida: exercitar a solidão consentida. Explico: ao ser humano, quando nasce, a natureza lhe concede a solidão como recompensa pela luz que ela nos faculta sem custos adicionais. A luz da vida nos segue a trilha de toda nossa existência, mas vai cobrando sua conta em cada fase que a gente se encontra nela. Por isso, exercitar a solidão é salutar, pois como a morte a solidão bate a nossa porta mais cedo ou mais tarde. Não é a solidão de homem com mulher, nem de família, nem de amigos. É a solidão da vida por ela mesma! Porque ao ser humano a vida lhe concedeu a cilada de ser eterno em cada minuto, mas também de ser também minuto sem eternidade. Algo como a vida ensinando depois que a gente deixou a “faculdade”...
Hoje eu decidi ficar sozinho. Esse é um exercício que tenho aprendido para sobreviver em paz. A paz dos mosteiros, a paz dos montes, a paz de Deus. Lá fora a casa das horas acalenta o tempo que passa incólume. Aqui dentro a paz se faz inteira pela certeza de que o compromisso de viver sendo feliz se cumpre. Cumpre-se acima de tudo, porque a vida se deita na arquibancada do time que ganha, enquanto os holofotes do existir se vão, paulatinamente apagando. Daqui a pouco os amigos chegam da balada. Ou da noitada. Poderão pasmar diante da minha cara tranquila e feliz. Se algum dele me perguntar se eu gosto de ficar sozinho, certamente lhe direi que não. Ao ser humano não compete a solidão. Dir-lhe-ei que fiquei comigo no exercício de me perder e me encontrar de mim mesmo a noite toda... Em paz.