MEMÓRIA

Naquela manhã,

igual a tantas outras

Numa repetição decana,

não tardava,

aparecia de chapéu e cachecol listrado

Entra, fazia as revências de homem educado

Era uma pessoa por muitos querida;

gostava de sentar-se sempre no mesmo lugar,

Pegava o jornal e lia

Havia há muito largado o charuto,

porém, não escondia,

gostava de charuto

Sentando sempre no mesmo lugar,

alguns fregueses marcavam seus encontros tendo-o como relógio

Era um homem sempre pontual,

e dizia que ser pontual era o que mais gostava

Não admitia deixar ninguém a esperá-lo

E foi assim construindo sua vida

Naquele dia não apareceu,

o lugar por outro foi ocupado

Os sinos da igreja tocaram

E a cidade parou e saudou

o homem que fumava charuto e lia jornais