OS DIFERENTES
Por Carlos Sena


 
Sou diferente de você e você de mim. Somos assim: diferentes. Nunca de fé rentes. Rente é a vida quando não se tira dela o sumo; profunda é a mente de quem vive amando não só os diferentes, mas as diferenças. Ser diferente pode não ser normal. Pode ser apenas mal, sem o nor que dá norte a vida ávida de paixão emsimesmada de encanto.
O princípio da mistura é o prêmio que a natureza dá para nos conceder o remédio. Mas para o tédio não há unguento que segure o princípio ativo da solidão. Pelo sim e pelo não, a diferença compõe o quadro que cada pessoa tem que pintar como se sua vida fosse. Uma vida igual a outra é uma vida rente – a medida exata de que nada sobra pra compensar os momentos de ilusão, de desespero, de solidão que, não raro nos metem medo se a gente não dispuser de conteúdo pra enfrentá-los... Há homens de fé rente por todos os lados, mas precisamos transformar os nossos quadrados em círculos de amor. Nos círculos não há recanto, não há superioridade de uns sobre os outros membros. Algo como dançar uma ciranda: todos vêm e todos vão, todos cantam e não há solidão. A ciranda da vida não é rente. É profunda como o sopro que dá vida e que sem ele a vida se vai embora pro infinito.
O princípio ativo da vida é a dádiva. Dádiva que se alcança com o perdão e com o amor – dois ingredientes que o mundo sente falta e que, assim, a vida vai ficando na superfície – rente, como dissemos. Alcançar a profundidade é tarefa que se exerce no duro exercício de ser melhor a cada dia. Entendendo que não haveria graça nenhuma conviver num mundo cheio de pessoas iguais. Viver, nessa condição, seria um tédio. Por isso sou diferente de você e você de mim.