Há um "quê" diferente nesta tarde silente onde guardamos feriado da Paixão de Cristo. Até os pássaros e as flores ficam em um movimento estranho, parecem entender que esta pausa é necessária. Sempre foi assim que percebi esta data, desde pequena quando avós e pais exigiam que nós, crianças, ficássemos menos ativas em respeito a ela. Lembro-me bem de minha mãe passando a mim e irmã livros que eram de orações ou histórias da vida de santos, pedindo-nos que lessemos. Assim sentadinhas num banco no jardim, ao lado da alameda de grandes árvores que era a passagem principal até a casa, nós duas, pequenas ainda, sem entender bem a razão de tanto silêncio ficávamos lendo e vendo figuras, conversando baixinho sôbre nossas meninices e sapequices típicas dos oito anos. Eu nada entendia daquelas figuras, algumas que me davam receios,de um Homem pregado na cruz, sangrando e a minha avó explicava a história toda que no ano anterior também já contara. Sempre esperávamos, minha irmãzinha e eu, que esta triste história acabasse bem e que o homem santo conseguisse escapar ileso. Ainda hoje assim fico, meditando e lamentando em algum lugar de minh'alma a morte de Jesus Cristo em prol dos homens. Tinha que ser, porém vendo o que ocorre com a humanidade atualmente gostaria que tudo fosse diferente. A tarde suave se vai aos poucos, daqui ouço sinfonias de ventos juntando-se à minha meditação, servindo de fundo musical Junto as mãos em prece como quando era criança, orando para todos, pelos menos favorecidos, doentes, sós. O ar da sexta feira santa chega cálido como antigamente, trazendo odores e silvos de tristeza pela morte de Jesus.


29/03/13
Marilda Lavienrose
Enviado por Marilda Lavienrose em 29/03/2013
Reeditado em 27/06/2015
Código do texto: T4213962
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