A manhã apodreceu, a tarde apodreceu. Restou a noite com seus sabores e odores acentuados pela proximidade do fim.
A luz é tênue, mas alumia. O odor vem da vida resgatada, ansiada, esperada, não vivida. Acontece então, um encontro que será o resgate de um sonho prenunciado, anunciado.
Uma volta aos lugares caminhados ao alvorecer, agora recaminhados ao anoitecer da vida. Uma volta para ver e rever cantos e recantos, sentir emoções que não morreram apesar dos cabelos brancos. A alma continua intacta...O amor, intacto... Versos intactos. E adolescemos juntos... Rimos de tudo, do nada e do quase nada. Um beijo furtivo acontece embaixo do cajueiro. Encantamo-nos com o mar visto do penhasco, como se o víssemos pela primeira vez. Estendemos as maõs em concha às mangabeiras cheias de frutos e nos inebriamos com o perfume dos cajueiros em flor.
Recolhemos retalhos do passado e os remendamos com o presente. Colhemos beneditas e até paqueviras, pra que viras? Paramos em qualquer lugar por qualquer razão, ou por nada. O tempo estanca e com ele, nós. Passado e presente se fundem, avizinham vida. Tecemos poemas sob mangueiras centenárias. Balançamo-nos no balanço largado no tempo e no espaço, nos balançamos na vida.
Mas, sabemos lá no fundo, que teremos uma enormidade de instantes a serem vividos, uma enormidade de instantes a serem vividos, uma enormidade de caminhos a serem percorridos, uma enormidade de afetos, que foram abrutamente interrompidos, a serem cultivados, uma enormidade de poemas a serem escritos.
A volta sempre é um recomeço, nunca o começo do fim.
Aqui estamos, meu mestre poeta Jomar Souto.