Estrofes
Estrofes
Elegância
Minha elegância é igual a de um camundongo néscio correndo assustado
numa viela sombria, escorregadia, deserta,
com medo de ser esfolado.
Prosa
Minha prosa é como um violão velho faltando a última corda, com o bojo furado devido a uma tijolada. No outono insiro a corda que falta, mas como as outras cinco já estão gastas a afinação grasna e assim então temos a prosa, crassa.
Música
Minha música é como um camundongo ébrio tocando um violão decrépito numa viela tortuosa. Quando as notas saem, saem correndo, e as que não saem ficam dentro, circulando, espiando, gemendo, mas um dia saem, ah saem, para delírio da platéia de dois ou três, um deles dorme, os outros caem.
Guerrilha
Minha guerrilha é colocar acentos em palavras que perderam acento quando na verdade tem acento, pois se minha pátria é minha língua, minha língua não é linear, tem a forma de um alfinete, o gosto de uma pêra, a textura de um trompete, o som de um estilingue. Tudo isso reverbera em ós e ús, para não falar de és e ís, descontando as vogais que desconheço, as saudades que eu mereço e os abismos onde estarreço.
Dinheiro
De minha parte já se tornou instantâneo proferir entre dentes, depois de ouvir tantas mentiras em tantos canais momentâneos: quero meu dinheiro de volta!
Sorriso
Meu sorriso, prosopopéia aguda, e apesar do que comentam, assemelha-se a um teclado de piano com excesso de teclas pretas, para constrangimento de meus parentes e alegria dos ausentes.
Amigos
Meus amigos são como um rio eterno que às vezes seca, do nada e sem aviso, embora minha amizade para com eles se expresse como um camundongo alegre tocando uma viola reluzente num dia qualquer resgatado para sempre.
Alma
Minha alma sempre agradece quando, mesmo sob um sol inclemente ou uma chuva torrente, você lê as bobagens que escrevo contente.
(Imagem: Paul Gauguin)
Estrofes
Elegância
Minha elegância é igual a de um camundongo néscio correndo assustado
numa viela sombria, escorregadia, deserta,
com medo de ser esfolado.
Prosa
Minha prosa é como um violão velho faltando a última corda, com o bojo furado devido a uma tijolada. No outono insiro a corda que falta, mas como as outras cinco já estão gastas a afinação grasna e assim então temos a prosa, crassa.
Música
Minha música é como um camundongo ébrio tocando um violão decrépito numa viela tortuosa. Quando as notas saem, saem correndo, e as que não saem ficam dentro, circulando, espiando, gemendo, mas um dia saem, ah saem, para delírio da platéia de dois ou três, um deles dorme, os outros caem.
Guerrilha
Minha guerrilha é colocar acentos em palavras que perderam acento quando na verdade tem acento, pois se minha pátria é minha língua, minha língua não é linear, tem a forma de um alfinete, o gosto de uma pêra, a textura de um trompete, o som de um estilingue. Tudo isso reverbera em ós e ús, para não falar de és e ís, descontando as vogais que desconheço, as saudades que eu mereço e os abismos onde estarreço.
Dinheiro
De minha parte já se tornou instantâneo proferir entre dentes, depois de ouvir tantas mentiras em tantos canais momentâneos: quero meu dinheiro de volta!
Sorriso
Meu sorriso, prosopopéia aguda, e apesar do que comentam, assemelha-se a um teclado de piano com excesso de teclas pretas, para constrangimento de meus parentes e alegria dos ausentes.
Amigos
Meus amigos são como um rio eterno que às vezes seca, do nada e sem aviso, embora minha amizade para com eles se expresse como um camundongo alegre tocando uma viola reluzente num dia qualquer resgatado para sempre.
Alma
Minha alma sempre agradece quando, mesmo sob um sol inclemente ou uma chuva torrente, você lê as bobagens que escrevo contente.
(Imagem: Paul Gauguin)