Experiência com o cogumelo mágico
(um relato etnobotânico)
Eu havia comprado no final do ano passado. Chegou no início de janeiro 2013, para partilhar ao máximo de pessoas possíveis as coisas boas da vida, chamei 4 próximas e cada uma tomou uma grama (tinha apenas 5g.). Dias antes havia me preparado espiritualmente, emocionalmente e também costurado os detalhes do local e dia, para que absolutamente tudo estivesse a favor. Foi feita uma seleção de músicas boas, um preparo alimentar pré-ingestão, banho de ervas para espantar o cansaço. Meditações, orações, concentração e foco linguisticamente positivos. Separamos os panos e os incensos e fomos nos encontrar numa granja linda, onde a natureza transborda em exuberância, e isso ajudou bastante.
Estava ansiosa e acabei excedendo-a em procurar a “lombra” em toda e qualquer imagem ou movimentação. Estávamos no rio e aproximadamente 1 hora depois de ingerirmos a planta seca com água, calafrios internos confundiam calor e frio, depois uma ligeira visão de gigantismo. O rosto da minha irmã transfigurava num estreito longo e engraçadíssimo. Fiquei me perguntando o tempo todo se estava de fato, chapada. Porque apesar da leveza hilária e os lapsos sutis de mudanças visuais, me sentia extremamente lúcida. Uma sensação suave invadia discretamente a água, que se tornava mais viçosa, e também a areia que formava desenhos perfeitos de tribais sob a lâmina transparente do rio que corria ainda mais espontâneo. Tudo fazia um sentido logicamente interessante. As plantas não precisam falar, os ventos não precisam preencher o tempo, todos comungam uns com os outros numa parceria elegantemente harmoniosa. Ali não pousava uma só angústia, dúvida, procura ou maldade humana. As ações eram tranquilas e puras; Pássaros, matas, céus, verdes, azuis, ventos, terras tornavam mais acessíveis, mais belos, cruelmente belos e complementares.
Observavam-nos a natureza inteira, nos viam nus, mesmo insistindo em nos vestir. O cenário inteiro era não só acolhedor e cúmplice, mas também conservava uma maturidade materna libertária de cuidado e amor. Tão gigante quanto o planeta suspenso no universo foi esbarrar na percepção emocionada de ver a grama respirar!! Lindo! Sim, elas respiram! A terra também respira, e junto ao ar uma sincronia de som imitando a transpiração natural da vida. Comecei a entender a natureza em sua unidade e divindade. Deus é natureza, sempre soube disso, mas depois do cogumelo digamos que a ideia tenha ficado mais palpável, mais coerente.
Havia uma pessoa de energia negra que desafiava o potencial da planta em toda etapa omitindo a mágica da coisa em vez de contemplar a beleza disposta ao redor. Sempre que eu me aproximava dela, aquela alegria artística sumia, parecendo mentira, dando lugar a uma tristeza feita de ilusão. Mas bastava me afastar, e a verdade espetacular voltava a deslumbrar minha retina.
Retornei ao banho de rio, desta vez sozinha, deitei a cabeça na água e vi uma luz muito forte sob minha cabeça. Foi rápido o suficiente pra me assustar e me deixar meio confusa. Depois nada. Enfim, percebia tudo, principalmente entendi a superioridade do fluxo natural pelo silêncio. Nós humanos falamos demais, e isso estraga tudo. No mais, a paisagem parecia um quadro vivo, tão surreal quanto real, verdes incríveis, o céu lilás multicolor e maravilhoso, risos, paz, amor. Nuances de cores desconhecidas (na verdade mais fortes), e a sensação de ver por dentro a energia das pessoas. Experiência perceptiva muito aguçada, no mínimo transformador.
Ao fim do dia (tomamos no inicio da tarde), voltamos para a casa com a melhor sensação do mundo. Uma lucidez estranhamente completa, um amor infantil e verdadeiro como se a vida se bastasse num instante. Comunhão de ser parte de um todo imenso e intransponível.
A única indignação era o fato de não haver percebido tais deslumbres antes, infelizmente matamos as possibilidades de vida fora do padrão pequeno, egocêntrico e banal dirigido pela sociedade. Por outro lado privilegiado, tivemos essa abertura acompanhada aos seres mágicos da floresta, e creio que tudo venha na sua hora...
No mais, palavras restringem as sensações, e ninguém bem as conhece senão sentindo-as vivamente no próprio campo imaginativo e, portanto real.
A vida torna-se reveladora quando se está humildemente, aberto às novas perspectivas, já que o mundo cético, cru, retrógrado sangra a infelicidade pobre das limitações.
Dessa forma ando flutuando em acompanhar as nuvens sem me importar com as coisas banais. Tudo é inútil. Apenas não o horizonte onde risca o mar. A harmonia deixa de acontecer quando há o primeiro conflito, mas é possível preservar em si a vontade pacificada de que o amor inunde a vista, o ouvido e a pele da humanidade. Não dá para escorar no tempo, já que ele é líquido. O futuro não existe, visto que ainda não houve. E assim seguimos a esperar o nada. Um fluxo contínuo...