Desencanto do Mundo
Nesses novos ares, onde as colunas são grandes, há também perfeitas pinturas.
Um canto lírico que me faz pensar em paz e sentir pudor.
Porque tudo te desvia. O mundo te corrompe. Quero andar na contramão.
Ser menos desejo, ser menos barulho, ser menos danças, e entender o que Espinoza já havia ensinado e que só aprendi hoje.
Nunca estiveram tão certos, pois também Kant assim disse, e não se trata de egoísmo, mas de poupar o mundano.
Não se quer aqui demonstrar a superioridade do ser. Pois não há. Há que se dizer, apenas, que se há serenidade a ser perseguida -e quero- não será aqui, nem perto do outro que é o caos. Que é carne, que quer carne, qualquer uma. E que lhe chama atenção pela boca vermelha, pelos cabelos dourados, pela familia italiana, pelo estudo.
Não pude ser, apesar de ter me esforçado. E hoje, cansada dos pregos prefiro permanecer em mim. Afastada de ti, e também afastada de mim.
Essa carta vai morrer comigo. No silêncio que quero manter. Pergunte como estou: vazia. Pergunte como quero estar: ...
Se te abandono, as coisas ficam boas para ti. Há o escuro e há o profano que nos almeja, que nos quer, que nos violenta, que me afronta. Se eu dissesse ficaria prepotente, pois digo não assim, nessa intenção, mas tão somente de mostrar que minha pele sequer cicatriza.
Quero ser túmulo. Quero ser fria. Quero ser pálida e silêncio puro.
Há uma prece silenciosa e hoje eu disse alto: acalmai, Deus, o desencanto do mundo.