Eu fiz um silêncio ainda maior
bem maior que o silêncio que cabe em mim.
E coube ainda muito mais silêncio
do que todo o silêncio que já havia em mim.
Porque não sei o que dizer, não sei,
as palavras morrem assoladas pelo tempo,
as palavras morrem de silêncio, talvez
por morarem no silêncio, por terem nele vivido
por terem dele nascido no dia fúnebre de nascer.
O olhar longe no tempo não contempla distâncias
nem qualquer esquecimento, tudo é só distante.
Nada meu pode mais te tocar neste momento,
estamos tão próximos da distância de um desaparecimento.
E entre nós qualquer acontecimento é como se não tivesse sido
e qualquer sentimento é como se nunca tivesse acontecido.

Talvez por causa de o dia ter amanhecido...

Eu não consigo dizer o quanto dói, porque isso também dói.
Não posso mostrar para provar o quanto é triste isso triste.
Não sou capaz de ensinar a ninguém este meu sofrimento.
Não posso deixar ninguém mais invadir a minha solidão.
Tudo o que eu posso é somente este silêncio, só o silêncio,
absoluto e absurdo, angustiante mas necessário, assim doído,
mas entranhado nos confins do reles ser que ainda me resta,
do resto meu que ainda presta, essa minha parte mais indigesta,
essa agonia, esse asco de viver e ter de viver e viver outra vez
e não poder dizer do enorme silêncio que é estar perdido,
totalmente perdido em todas essas coisas que não sei mais fazer:
nascer, viver, morrer, nascer, viver, morrer, nascer, viver e ver...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 25/03/2013
Reeditado em 25/04/2021
Código do texto: T4206266
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